Título: Carteira do ISE deve mudar em 2007
Autor: Cintra, Luiz Antonio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Caderno Especial, p. F2

Lançado pela Bovespa em dezembro de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) chega perto de sua primeira revisão com um desempenho acima da média do mercado. Acumulou alta de 12,3% até o dia 29 de agosto, enquanto o Ibovespa, índice que acompanha as ações que somam mais de 80% dos negócios, subiu apenas 8,9% no período.

Criado pela bolsa paulista em parceria com o IFC (International Finance Corporation), braço do Banco Mundial para projetos com a iniciativa privada, o ISE utiliza metodologia desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, usada para a seleção das empresas que entraram no índice. Com 28 companhias participantes, o ISE acompanha o desempenho nos pregões de empresas listadas na bolsa, consideradas capazes de aliar práticas sociais e ambientais corretas e eficazes a bom desempenho econômico-financeiro.

Para fazer parte desse clube seleto - das 56 ações que compõem a carteira teórica do Ibovespa, apenas 34 ações (de 28 empresas selecionadas) foram incluídas no ISE - as empresas tiveram de responder a um questionário criado pela FGV, dando conta de suas políticas de RH, meio ambiente, governança corporativa, assim como de cumprimento de normas de concorrência e respeito aos direitos do consumidor. A maneira como essas empresas se relacionam com funcionários, sindicatos e comunidade que vive no entorno também foram levadas em consideração. Com prazo de um mês para responder às 150 questões, apenas 63 companhias, das 121 contatadas inicialmente pela FGV, conseguiram dar conta do recado.

A partir das respostas recebidas, o conselho do ISE, composto por representantes da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), Instituto Ethos, IFC e Ministério do Meio Ambiente, além da própria Bovespa, definiu a lista de empresas que de fato atenderam aos requisitos estabelecidos. A lista ainda foi levada à consulta pública, aberta durante um mês, encerrada em audiência realizada na FGV, com a presença de cerca de 300 pessoas.

"A primeira revisão do ISE começa nesta semana, com nova audiência pública, e acreditamos que o número de empresas presentes no ISE aumente um pouco em 2007", afirma Ricardo Pinto Nogueira, superintendente da Bovespa. "Como o índice teve uma repercussão muito boa tanto na mídia como entre os investidores, acreditamos que mais empresas estejam interessadas em fazer parte do índice", avalia Nogueira.

Analistas do mercado de capitais consideram que o índice precisa ampliar o leque de setores da economia representados, já que hoje metade das empresas que fazem parte do índice é de bancos ou empresas de energia.

Diante desse interesse crescente, a Bovespa espera que aumente o percentual de questionários respondidos, com o conseqüente incremento no número de empresas representadas no ISE, até o limite máximo de 40, conforme estabeleceu o conselho do índice. A nova carteira de empresas deverá ser oficializada no dia primeiro de dezembro, a partir de nova rodada de questionários.

A novidade será o início da checagem das informações devolvidas pelas empresas, por meio de coleta aleatória de itens do questionário respondido - e assinado - pelo diretor de relações com os investidores da empresa em questão. Cada empresa terá um mês para confirmar as informações apresentadas inicialmente, anexando quando necessário documentos comprobatórios.

Com 14 mil funcionários e receita bruta no ano passado de R$ 3 bilhões, a Weg, empresa catarinense especializada na produção de motores elétricos, foi uma das empresas selecionadas para participar do ISE. "A preocupação com a sustentabilidade das empresas está cada vez mais presente nas conversas com os investidores nacionais e internacionais", diz Luís Fernando de Oliveira, gerente de relações com investidores da Weg.

Na avaliação do executivo, aos poucos, à medida que esse tema ganha visibilidade, aumentará a procura por papéis de empresas que tenham preocupações ambientais e sociais incorporadas a suas atividades regulares. "Por enquanto, muitos investidores não conseguem estabelecer uma relação forte entre sustentabilidade e rentabilidade, mas essa relação existe e é muito importante", avalia.

Com ênfase em projetos de capacitação de pequenas e médias empresas, a CPFL Energia, que também faz parte do ISE, considera que os investimentos realizados nessa área são decisivos para a imagem da empresa. "Apesar de serem valores intangíveis, consideramos importantíssimo o respeito e a credibilidade de clientes e colaboradores, com reflexos inclusive sobre o rating da empresa", afirma Vítor Fagá de Almeida, gerente de relações com investidores da CPFL Energia.

Em parceria com o Instituto Ethos e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a CPFL colabora na qualificação de empresas de menor porte, para que elas passem a adotar processos administrativos mais adequados do ponto de vista ambiental e social, como fazem as empresas que fazem parte do ISE.

Ainda pouco difundido no Brasil, o conceito de responsabilidade social no mundo dos negócios já tem um peso importante nos países desenvolvidos. Nos EUA, por exemplo, investimentos em empresas "socialmente corretas" já representam 10% do total de aplicações, diz Walter Mendes, superintendente de renda variável do Banco Itaú. "Lá empresas dos setores de fumo e bebidas alcoólicas, assim como de armamentos, são de cara excluídas, o que não acontece no caso do ISE", diz Mendes. De olho no padrão americano, o Itaú também preferiu deixar de fora do Fundo Itaú Excelência Social empresas como Embraer e Ambev.