Título: Preço do insumo sobe US$ 1,4 em apenas um ano
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Empresas & Tecnologia, p. B1

As últimas decisões do governo da Bolívia em relação ao gás natural, como o decreto de nacionalização do presidente Evo Morales, alteraram o preço pago pela Gas Natural São Paulo Sul à Petrobras. Tanto que segundo o gerente comercial da Gas Natural, Marcos Aurélio Martins Moisés, a empresa hoje paga o valor máximo do contrato.

"Em 2005, mesmo em meio às greves e ao rompimento da tubulação na Bolívia, desembolsamos US$ 4 por milhão de BTU já com o transporte. Atualmente, o preço é de US$ 5,4", diz o executivo.

Tamanho incremento de valores só não prejudicou o desempenho da empresa porque a Gas Natural apostou na expansão da sua base de clientes. Segundo o gerente comercial, o grupo aproveitou o baixo preço no início dos anos 2000 e disseminou o produto na sua área de concessão. Prova disso é que essa base deverá aumentar 22% entre o ano passado e 2006, alcançando 27,5 mil.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), conta que o gás boliviano teve seis aumentos de preço entre setembro de 2005 e julho de 2006. "Após a eleição de outubro, não duvidaria se o valor do milhão de BTU subisse para US$ 5 sem transporte, porque este foi o preço que a Bolívia firmou com a Argentina no seu último contrato", diz Pires.

A Gas Natural São Paulo Sul, contudo, acredita que o seu projeto de expansão, cujo objetivo principal é aumentar a venda diária de 1,3 milhão para 1,7 milhão de metros cúbicos nos 93 municípios que atende no interior paulista, não deverá estar em risco no longo prazo. O contrato atual da companhia, além de ser renovado anualmente, tem duração até 2014 e já prevê incremento no consumo diário. Procurada, a Petrobras não comentou sobre o acordo.

Mesmo assim, boa parte da crença da empresa é fruto do anúncio da Petrobras de agosto último, quando a estatal apresentou um plano que prevê investimentos de US$ 22 bilhões. Em outras palavras, isso significa que a produção atual passará de 25 milhões para 71 milhões de metros cúbicos no Brasil até 2011. Além disso, informa que a este número se adicionará outros 20 milhões de metros cúbicos de GNL e o suprimento de 30 milhões de metros cúbicos trazidos da Bolívia, totalizando 121 milhões de metros cúbicos por dia.

"É um plano ambicioso, até porque obter licença ambiental não é simples. Portanto, penso que o problema do gás só será resolvido em 2010. Acho que 2007 e 2008 serão anos difíceis", diz Pires. (MC)