Título: Petrobras ajuda Ipiranga a retomar refino
Autor: Bueno, sérgio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Empresas, p. B7

Um acordo válido por seis meses entre o governo do Rio Grande do Sul e o grupo Ipiranga, mas que envolve a Petrobras e a Copesul (central de matérias-primas do pólo petroquímico de Triunfo), permitirá a reativação da Refinaria Ipiranga a partir de 1º de outubro. Depois de duas paradas no ano passado, a unidade está com as operações suspensas desde o fim de maio em função da defasagem entre os preços dos combustíveis e a cotação do petróleo.

A Ipiranga receberá incentivos fiscais e vai vender 25 mil toneladas mensais de nafta, produzida a partir de condensado de petróleo, para a Copesul em substituição a igual volume fornecido pelas refinarias da Petrobras localizadas fora do Rio Grande do Sul. No primeiro semestre a estatal entregou em média 125 mil toneladas por mês do produto para a central gaúcha, sendo 76 mil toneladas originárias de outros Estados e 49 mil da Refinaria Alberto Pasqualini, de Canoas (RS). A Copesul também importou 179,5 mil toneladas mensais, em média, de nafta e condensado.

Pelo preço de ontem da nafta ARA, que serve de referência para o mercado internacional, de US$ 541 por tonelada (o mais baixo desde 27 de março), a Petrobras deixaria de faturar US$ 13,5 milhões por mês com o acordo. A estatal foi procurada, mas o diretor responsável pela área, Paulo Roberto Costa, estava viajando e não pode atender. A cotação atual também é péssima para a própria Ipiranga, já que o condensado, conforme a diretora superintendente da refinaria, Elizabeth Tellechea, custa o equivalente ao petróleo Brent mais US$ 3. Isto resulta em cerca de US$ 560 por tonelada e gera margem negativa.

Mesmo assim, segundo Elizabeth, a Petrobras está "abrindo mão" de parte do fornecimento e contribuindo com uma solução "estruturada" para a retomada das operações da unidade instalada em Rio Grande, onde trabalham 360 pessoas. Conforme a empresária, o acordo resultou de uma "parceria" entre o governo do Estado, o governo federal, a Petrobras e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A Copesul, controlada pelos grupos Ipiranga e Odebrecht, emitiu nota no fim da tarde afirmando que "privilegiará a produção local sempre que esta for competitiva em relação às demais alternativas". Até agora, porém, "não foi firmado nenhum tipo de acordo de fornecimento de nafta da Ipiranga para a Copesul", disse a central.

Segundo o secretário substituto da Fazenda do Rio Grande do Sul, Júlio César Grazziotin, o governo estadual entrou no acordo com a concessão de um crédito presumido que reduz de 17% para 8,5% a alíquota de ICMS que terá de ser recolhida pela refinaria na venda de nafta à Copesul. O incentivo será compensado com a redução de cerca de um terço dos créditos tributários reconhecidos pelo governo gaúcho (correspondentes ao imposto recolhido pela central em outros Estados), que chega hoje a R$ 200 milhões por ano.

A refinaria vai consumir 60 mil metros cúbicos por mês de condensado (cerca de 43 mil toneladas). Deste total, 60% serão transformados em nafta e 40% em óleo diesel, gasolina e óleo combustível, devido a questões técnicas e também para equilibrar a compensação do PIS e da Confins, que têm pesos diferentes para cada produto. De acordo com Elizabeth, só a gasolina está com preço defasado em 20% e o crédito presumido de ICMS servirá para anular esta perda. O percentual de incentivo será revisto para baixo se as condições de mercado se tornarem mais favoráveis para a Ipiranga.