Título: Planalto escolhe petista de Minas para relatar CPI
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2012, Política, p. A6

Com prazo de seis meses para investigar as ligações do suposto esquema chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos com agentes públicos e o setor privado, a CPI do Cachoeira será instalada hoje pelo Congresso. Nominalmente, a comissão mista de senadores e deputados terá ampla maioria governista, mas existe o temor de que ela possa se voltar contra o governo, na medida em que sai de cena o senador Demóstenes Torres, virtualmente condenado pelos congressistas, e entram na agenda o Departamento Nacional de Infraestrutura Rodoviária (Dnit) e a empreiteira Delta Construção.

O PT escalou um experiente time de ex-líderes para integrar a CPI, mas o relator designado, deputado Odair Cunha (MG), assegurou que não vai "blindar" o governo nas investigações. Fontes petistas ouvidas pelo Valor afirmaram que a linha a seguir será, em primeiro lugar, mapear "a organização criminosa e seus tentáculos nos Estados", o que, na prática, significa encurralar governadores de oposição como Marconi Perillo, de Goiás, a base de operações do contraventor Carlos Cachoeira.

Os demais partidos governistas, especialmente o PMDB, indicaram nomes "neutros" e menos expressivos, com algumas exceções, à espera dos desdobramentos dos trabalhos da comissão. Mais adiante, se julgarem necessário, trocam os nomes. A oposição começa na defensiva, com um de seus principais integrantes, o senador Demóstenes Torres, que pertencia ao DEM, desmoralizado e com o mandato virtualmente cassado. O PSDB e Democratas avaliam que esta será a primeira CPI efetivamente online realizada pelo Congresso, e esperam que a repercussão das investigações nas redes sociais seja capaz de engrossar as marchas contra a corrupção e mudar o destino anunciado da CPI. Já há no Congresso quem esteja lendo o relatório da CPI da Loterj, na qual Cachoeira e integrantes do PT se destacaram.

Existe apreensão entre os governadores de Estado, inclusive os do PT: eles temem que a CPI possa paralisar uma agenda nitidamente federativa em curso no Congresso: royalties, ICMS, a mudança no Fundo de Participação dos Estados, determinada pelo Supremo para ser feita até dezembro. E o calendário do Congresso, este ano, é curto. No segundo semestre, o interesse dos parlamentares estará integralmente voltado para as eleições municipais de outubro.

Após intensa disputa interna, o líder da bancada do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), anunciou a escolha de Odair Cunha (MG) para a relator e a escalação de Paulo Teixeira (SP) e Cândido Vaccarezza (SP) como os outros titulares do partido na CPI. A cúpula da sigla queria que Vaccarezza fosse o relator, enquanto o Palácio do Planalto preferia Teixeira ou Cunha. Na segunda-feira, Paulo Teixeira era considerado favorito. Ontem, no entanto, Odair Cunha foi indicado, o que não chegou a contrariar o ex-ministro José Dirceu, que apoiava Vaccarezza e teve intensa participação na definição dos nomes do PT.

"Vamos estabelecer um roteiro de trabalho. e analisar o que existe à disposição da CPMI. A partir daí, tomar as medidas adequadas. É possível a quebra de sigilos", afirmou o relator da CPI. "Temos que analisar o que existir de provas e indícios. A investigação pode levar a A ou B. É incontrolável". Cunha também negou haver conflito de interesses por ser um dos vice-lideres da maioria e eventualmente ter de investigar integrantes do governo. "Nós queremos investigar o fato determinado que originou a CPMI".

No Senado, o bloco liderado pelo PT indicou José Pimentel, líder do governo no Congresso, o ex-líder do PT na Casa Humberto Costa e os senadores Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Pedro Taques (PDT-MT), que tem uma atuação independente. A oposição conta ainda com o apoio do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), indicado para uma suplência por DEM e PSDB.

Por outro lado, o PMDB quer deixar claro que a CPI é uma iniciativa do PT. As principais lideranças do partido não quiseram participar da comissão, que será presidida pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), foi além. Indicou Ricardo Ferraço (ES) e Sérgio Souza (PR), suplente da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Mesmo assim, Vital do Rêgo sinalizou que não pretende permitir a criação de sub-relatorias, uma demanda da oposição. "Sub-relatoria às vezes facilita, às vezes prejudica. Essas sub-relatorias, de um lado, poderão apressar nossa investigação. Mas poderiam facilitar vazamento, dificultando um controle mais rigoroso", disse o presidente da CPI. (Colaboraram Daniela Martins e Bruno Peres)