Título: Mercado reduz projeção para o PIB
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Brasil, p. A4

As projeções do mercado financeiro para o crescimento econômico e para a inflação voltaram a cair, segundo a pesquisa semanal do Banco Central. A expectativa mediana para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano caiu pela quarta semana seguida, de 3,5% para 3,2%. As previsões para a inflação também recuaram, de 3,68% para 3,63%, na terceira semana consecutiva de queda.

A queda nas projeções para o crescimento da economia ocorreu dois dias depois de o IBGE divulgar que, no segundo trimestre, o PIB cresceu só 0,5%. Mas a tendência de queda vinha de antes. Até 10 de agosto, os analistas projetavam variação de 3,6% do PIB.

Os analistas reduziram as projeções de crescimento de todos os setores da economia. A projeção para o PIB industrial caiu de 4,13% para 3,8%; no caso dos serviços, de 2,96% para 2,78%; e, para a agropecuária, de 2,83% para 2,42%. As projeções para a variação do PIB em 2007 se mantiveram estáveis, após o recuo do período anterior, quando caiu de 3,7% para 3,5%.

O PIB registrado no segundo trimestre também provocou revisão na projeção de crescimento para este ano do Itaú. "A projeção do Itaú era de um PIB de 3,5%, Estamos revendo para algo próximo de 3%. Para dar 3,5%, teria que crescer muito no segundo semestre", afirmou o vice-presidente do banco, Alfredo Setúbal.

Para o executivo, o país precisa reduzir juros e aumentar a segurança regulatória para ter um crescimento maior. "O juro é muito alto, temos incertezas regulatórias. O próprio processo eleitoral, por mais desprezível, sempre gera alguma incerteza. Vamos continuar com crescimento abaixo da média mundial e, entre os emergentes, com crescimento dos mais baixos."

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, por sua vez, insiste no crescimento de 4% para este ano. "O crescimento de 4% ainda é possível", disse. Para Appy, além da atividade econômica ter sido prejudicada por fatores pontuais no segundo trimestre, como Copa do Mundo, paradas para manutenção de plataformas da Petrobras e greve na Receita Federal, indicadores antecedentes já apontam para recuperação a partir de julho. "A tendência, a partir do terceiro trimestre, é de uma recuperação mais forte da atividade econômica", afirmou.

Já a inflação projetada para 2006 se encontra quase um ponto percentual abaixo da meta, fixada em 4,5%. O índice vem caindo há três semanas seguidas, mas é possível sustentar que existe uma tendência de queda consistente nas projeções inflacionárias desde de fevereiro, quando as previsões medianas se encontravam em 4,7%.

Os recuos ainda não são tão expressivos quando se observa a inflação de médio e longo prazos, considerada mais relevante para as decisões de política monetária do BC. O IPCA projetado para os próximos 12 meses apresentou ligeira alta, de 4,51% para 4,52%, devido principalmente a fatores estatísticos - estão saindo da estatística períodos de 2006, para os quais o mercado projeta inflação mais baixa, e entrando períodos de 2007, para as quais as expectativas são um pouco menos favoráveis.

As projeções medianas de inflação para 2007 se mantiveram estáveis em 4,5% pela 55ª semana seguida. Mas já há alguns sinais antecedentes que indicam que, nas próximas semanas, poderá haver queda nas previsões.

Os chamados Top 5 de médio prazo, grupo de analistas que mais acertam suas projeções para horizontes mais longos de tempo, já trabalham há duas semanas com uma projeção de 4,4% para o IPCA em 2007.

Também houve recuo na inflação média projetada pelo mercado, que na última sexta-feira se encontrava em 4,43%. A projeção média de inflação (a soma das projeções de inflação, dividida pelo número de projeções) costuma antecipar a tendência da mediana (aquela que está mais ao centro das projeções).

Embora tenham reduzido as expectativas de crescimento e inflação, os analistas econômicos não fizeram revisão relevante nas suas projeções para o final deste ano. A aposta mediana é que a taxa Selic, hoje em 14,25%, irá terminar o ano em 14% ao ano.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC fez um corte maior do que o esperado nos juros - de 0,5 ponto percentual, em vez de 0,25 ponto. O mercado basicamente ajustou suas projeções, prevendo um corte de 0,25 ponto em outubro e estabilidade da taxa na reunião de novembro (em setembro e em dezembro não haverá encontros do Copom). (Colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online, do Rio)