Título: Fishlow critica baixo nível de investimento
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Brasil, p. A5

O professor Albert Fishlow diz que o Brasil tem de enfrentar com urgência a questão do tamanho do Estado e melhorar a eficiência dos gastos com educação para crescer a taxas mais robustas. Diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, Fishlow acredita que o país precisa elevar a taxa de investimento a 25% do Produto Interno Bruto (PIB) para avançar a um ritmo de 4,5% a 5% ao ano - a taxa atual, de 20%, é suficiente para uma expansão de apenas 3,5%, avalia.

Fishlow participou ontem do "1º Seminário Internacional de Crescimento Sustentável", promovido pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). Para ele, o resultado do PIB no segundo trimestre mostra que dificilmente a economia vai crescer muito mais do que 3% em 2006.

Fishlow lembra que o país tem uma carga tributária que se aproxima de 40% do PIB, nível de países desenvolvidos como Alemanha e França, o que é um entrave para aumentar a taxa de investimento. Segundo ele, o Brasil "tem um Estado muito grande, mas fraco". Mesmo arrecadando o equivalente a quase 40% do PIB, o país ainda está no vermelho quando se consideram as despesas com juros: o déficit nominal é superior a 3% do PIB.

"Sem tratar do tamanho do setor público, não vejo de que maneira o país vai conseguir sair da situação atual", diz Fishlow, ressaltando a importância de melhorar a eficiência das despesas com educação. O mau desempenho dos estudantes brasileiros em testes de avaliação de conhecimento mostram um país despreparado para concorrer com outros emergentes, como China, Índia e Coréia do Sul.

Fishlow atacou o elevado volume de recursos que o país destina às universidades públicas, que têm um custo de US$ 15 mil por aluno por ano, ao mesmo tempo em que as despesas por aluno com a educação primária são de US$ 1 mil por ano. Ele também criticou o fato de que os integrantes da classe alta freqüentam a universidade pública sem pagar nada.

Para aumentar o nível de investimento, Fishlow também defendeu a redução das alíquotas de importação de bens intermediários e bens de capital. "Eu não vejo grande vantagem o país continuar com superávits em conta corrente." A redução de tarifas seria importante para aumentar a compra dos bens necessários para aumentar a taxa de investimento com um custo menor, o que também estimularia a concorrência com o setor nacional, avalia ele.

Fishlow faz questão de dizer que são necessárias várias medidas para levar o país a um crescimento mais forte e que elas não se limitam ao campo econômico. A reforma política também é fundamental, segundo ele, porque é o sistema político que define questões importantes como o tamanho do Estado e a distribuição dos gastos públicos. Medidas que garantam a fidelidade partidária e o voto distrital misto são bem vistas por ele.

O professor preferiu não opinar sobre qual é o candidato mais preparado para implementar essa agenda de reformas. Ao comentar o governo Lula, Fishlow elogiou a continuidade da política monetária, que garantiu a permanência da inflação baixa mesmo com a mudança de governo. "Isso não ocorria havia um século."

Fishlow está relativamente otimista quanto ao impacto da desaceleração americana sobre o Brasil. Segundo ele, a economia global não depende tanto dos EUA como há alguns anos. Outros países, como a China, ganharam importância no mundo, o que pode amortecer o impacto da perda de fôlego dos EUA. "Isso implica uma maior possibilidade de o Brasil definir o futuro olhando para os próprios problemas." Ele lembra ainda que que o Fed, o banco central dos EUA, parou a alta dos juros e que há sinais de reação do consumo e do investimento no país.

No seminário, o economista Raul Velloso alertou para a crise do modelo fiscal. Segundo ele, o modelo de aumento de gastos correntes e de impostos, com contenção de investimentos, está no limite. A saída passa por cortes de despesas correntes e em áreas delicadas como Previdência e pessoal, diz Velloso.