Título: IOF maior é insuficiente
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2010, Economia, p. 13

O governo não está conseguindo conter o derretimento do dólar frente o real. A elevação de 2% para 4% a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado na entrada de capital estrangeiro no país foram insuficientes para brecar a enxurrada da divisa norte americana. Pelas contas do Banco Central, o fluxo cambial ficou positivo em US$ 3,8 bilhões até 21 de outubro. Apenas em renda fixa, foi aplicado US$ 1,6 bilhão no período e, mesmo sem o mês ter terminado, o volume já é 55% maior que o apurado em setembro inteiro.

Na segunda-feira, em mais um dia de queda, o dólar comercial fechou com baixa de 0,35%, cotado a R$ 1,709. O recuo foi reflexo também do anúncio de um acordo cambial no G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), o que levou os especuladores a intensificar as vendas da moeda.

De acordo com a avaliação de Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, as medidas do governo são pouco efetivas. ¿Essas ações continuarão a não funcionar enquanto tivermos juros mais elevados que no exterior¿, disse.

¿O fluxo de entrada permanece. Não na mesma magnitude quando houve a capitalização da Petrobras, mas permanece. Talvez o investidor esteja um pouco mais cauteloso em relação ao Brasil. Ninguém gosta de mudança de regras no meio de caminho¿, ponderou Mariana Costa, economista-chefe da Link Investimentos. (VM)

Vendas de US$ 195 bi

Liana Verdini

O governo reviu pela terceira vez a previsão de saldo das exportações para este ano. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas de produtos brasileiros no mercado internacional deverá alcançar US$ 195 bilhões. ¿Vai ficar muito próximo do recorde registrado em 2008¿, disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Naquele ano, os embarques atingiram US$ 197,8 bilhões. Já em 2009, com a crise, caíram 22% e terminaram o ano em US$ 152,25 bilhões.

O desempenho das exportações é surpreendente num ano de valorização do real, o que dificulta a competitividade dos produtos. ¿O Brasil ganhou espaço em mercados da América Latina e do Caribe. Cresceram as vendas de manufaturados e subiram as cotações das commodities¿, afirmou. O país deve expandir sua participação no comércio internacional. ¿O Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 19% das transações comerciais. Mas o Brasil deverá vender 27% a mais¿, estimou Barral.

O bom resultado vem sendo alcançado pela expansão das vendas de produtos manufaturados para a América Latina e o Caribe, especialmente de veículos e de tratores, e dos básicos para a Ásia, como minério de ferro, cobre, petróleo, açúcar e café. ¿O exportador tem o mérito de ter conquistado mercados novos e de ter se mantido competitivo em regiões muito disputadas¿, disse o secretário. A estimativa é de crescimento de 45% nas importações e de superavit comercial de US$ 15 bilhões no ano.

Banco aposta contra o dólar

Apesar das medidas tomadas pelo governo para conter o ingresso de dólares no Brasil, os bancos continuam a apostar no fortalecimento do real. Em setembro, a posição das instituições estava vendida em US$ 12,4 bilhões. Em outubro, até o dia 21, a aposta contra o dólar avançou para US$ 14,2 bilhões. ¿Os bancos estão apostando que os efeitos do IOF serão menores do que o esperado porque o movimento de derretimento é generalizado¿, avaliou Mariana Costa, economista-chefe da Link Investimentos.

Com a falta de consenso na reunião do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, essa aposta contra o dólar deve se intensificar nos próximos dias. Os bancos estão vendendo a divisa norte-americana sem a possuir em carteira e com a expectativa de, no futuro, comprar esses dólares a um preço mais baixo. A diferença entre a compra e a venda é embolsada pelas instituições. No mercado futuro da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), um montante semelhante, de aproximadamente US$ 14 bilhões, também substancia a aposta de que o dólar ainda não chegou ao fundo do poço. (VM)