Título: Ministro diminui projeção de avanço econômico para 4%
Autor: Oliveira, Ribamar; Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2012, Brasil, p. A4

No pior cenário de agravamento da crise econômica, com a Grécia saindo da zona do euro, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ficará até um ponto percentual menor este ano. Essa projeção foi feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e apresentada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante audiência pública no Senado. Como o governo estimava uma expansão de 4,5% em 2012, a crise poderá, portanto, reduzir o crescimento para 3,5%. Mantega, no entanto, diminuiu a projeção oficial de crescimento para 4%.

De acordo com o FMI, os países europeus poderão apresentar uma contração de mais de 3 pontos percentuais do PIB neste ano, enquanto no Reino Unido o impacto seria um pouco menor - de 2 a 3 pontos percentuais. Os Estados Unidos, a China, a Índia e a Rússia teriam uma queda de 1 a 2 pontos percentuais do PIB.

"A crise levará à retração da economia mundial e 2012 será um dos piores momentos da história em termos de crescimento", disse Mantega, que criticou a política de austeridade adotada pela União Europeia. "A estratégia não está dando certo, pois não veio acompanhada de medidas de estímulo ao crescimento", analisou. "O resultado será baixo crescimento e até mesmo recessão para os países europeus, principalmente aqueles da periferia".

Se não houver saída administrada da Grécia do regime do euro, Mantega acha que o mundo terá sérios problemas, principalmente na área financeira. "Estamos de novo na iminência de problemas com os bancos, que afetarão o mundo inteiro", disse. Para Mantega, caso a Grécia decida deixar o euro, a economia mundial atravessaria um período de um mês a um mês e meio de turbulência. "Será algo difícil, mas passageiro."

O ministro da Fazenda disse que "não é trivial" acelerar o crescimento nesse cenário mundial adverso. "É preciso dinamizar os investimentos e fortalecer o mercado interno", explicou. "Para isso, é necessário manter a solidez fiscal, reduzir os custos de produção e os custos financeiros", acrescentou.

"Há uma redução recente dos juros, mas ainda não é o ideal. Ainda temos spreads bancários elevados, e, portanto, há uma margem grande de redução do custo financeiro ao consumidor", disse Mantega aos parlamentares. O ministro fez referência à diferença, o "spread", entre os juros cobrados pelos bancos e a Selic. "A redução dos juros é a bola da vez. A população apoia o esforço do governo e vamos ser vitoriosos, pois este será um passo decisivo no rumo da normalidade."

Mantega também antecipou que o governo desembolsou R$ 11,3 bilhões em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nos primeiros quatro meses do ano, resultado 50% superior ao desembolsado em igual período do ano passado. "Os juros estão caindo, e o investimento público aumentando. Esse processo precisa se intensificar, e vamos nos esforçar nesse sentido", afirmou o ministro.

O ministro da Fazenda defendeu a Medida Provisória (MP) 567, que muda a remuneração da caderneta de poupança, e disse que ela é necessária para a continuidade da queda dos juros. "Não podemos ter nenhum empecilho para impedir que a taxa de juros continue caindo. A poupança se constituía nesse obstáculo", afirmou.

O ministro praticamente não encontrou resistência à MP por parte dos parlamentares de oposição ao governo. Todas as 24 emendas à medida provisória da poupança foram feitas por parlamentares da oposição, mas nenhuma das medidas altera radicalmente o texto do governo, apenas delimitam faixas de renda a partir das quais as novas regras propostas pelo governo entrariam em vigor.

Quanto ao pacote de estímulo à economia lançado na segunda-feira pelo governo, Mantega defendeu as medidas de ajuda à indústria automobilística. Segundo o ministro da Fazenda, o governo adotou as medidas para evitar que as montadoras dessem férias coletivas aos trabalhadores, e interrompessem as linhas de montagem dos veículos.

Mantega também afirmou que a redução em um ponto percentual da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre as operações de crédito não vai alterar o patamar da inadimplência dos tomadores de empréstimos. "A inadimplência aumentou de 2011 para 2012, mas não há nenhum problema no sistema, e os bancos públicos, aliás, são os que têm os menores níveis de inadimplência", afirmou. Ele negou que o governo esteja forçando os bancos a conceder créditos de forma menos rigorosa. "Os empréstimos serão feitos dentro dos parâmetros da responsabilidade, dentro de padrões normais."

O ministro aproveitou a audiência no Senado para elogiar o atual patamar do dólar, próximo a R$ 2,00. De acordo com Mantega, o real sofreu uma desvalorização de cerca de 20% frente ao dólar, de janeiro até agora, aumentando, assim, a competitividade das mercadorias exportadas pelo país.