Título: Projeções de inflação no curto prazo recuam com IPI menor para veículos
Autor: De Lorenzo, Francine
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2012, Brasil, p. A5

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis vai ajudar a aliviar a inflação nos próximos meses, mas poderá voltar a pressionar os preços a partir de setembro, uma vez que a desoneração tem data para acabar- a princípio, deixa de vigorar no fim de agosto. Os economistas consultados pelo Valor revisaram suas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no curto prazo, mas não alteraram as estimativas para o ano fechado, porque a medida é temporária.

Pelos cálculos de Fabio Romão, da LCA Consultores, o corte de até sete pontos percentuais no IPI de veículos deverá promover deflação de 1% tanto nos carros novos quanto nos usados no IPCA de maio. O maior impacto, no entanto, deverá ser sentido em junho, quando a queda, pelas suas contas, chegará a 5%. Diante disso, a LCA baixou suas projeções para o IPCA de 0,47% para 0,40% em maio e de 0,29% para 0,07% em junho.

O mesmo movimento foi feito pelo BNP Paribas, que reduziu de 0,45% para 0,40% sua previsão para o IPCA deste mês. Ajuste mais intenso foi feito pelo HSBC, ao baixar de 0,42% para 0,36%. Em relatório, o banco destaca que, se os carros ficarem 10% mais baratos, diminuirão em 0,4 ponto percentual a inflação nos próximos dois meses.

A Rosenberg & Associados, por sua vez, colocou viés de baixa em sua estimativa de 0,51% para o indicador de maio. "A alta do IPCA nesse mês deverá ficar em torno de 0,45%", diz o analista Daniel Lima. "Se a redução do IPI realmente chegar ao consumidor, poderemos ter um impacto significativo na inflação, já que a participação de carros no IPCA é de 3,53%."

Caso as novas previsões se concretizem, a inflação em 12 meses continuará desacelerando - o que não aconteceria se o IPCA de maio ultrapassasse 0,47%. Até sexta-feira, a mediana das expectativas dos economistas consultados pelo Banco Central apontava alta de 0,48% para a inflação de maio.

A divulgação, ontem, do IPCA-15, prévia da inflação oficial, também contribuiu para a queda nas estimativas. O IPCA-15 subiu 0,51% entre abril e maio - menos que o projetado pelo mercado -, acumulando elevação de 5,05% em 12 meses - o menor percentual desde os 5,03% de outubro de 2010,

O recuo de 0,54% na gasolina em maio surpreendeu Romão. "Além dos carros, combustíveis também devem ajudar a aliviar a inflação em maio e junho. Há uma expectativa de que o etanol entre em deflação, devido à nova safra de cana-de-açúcar". Pelas suas contas, o álcool, que subiu 0,09% no IPCA-15 deste mês, baixará 0,80% no IPCA de maio e 1,5% no de junho.

Outro item que deve diminuir as pressões sobre o IPCA neste mês é cigarros. A alta de 14,26% captada pelo IPCA-15 será reduzida para 4,7% no IPCA de maio, diz Romão. "Os produtores estão aplicando reajustes menores para ganhar competitividade", diz. Para ele, o impacto do fumo em junho já será nulo.

Mesmo a inflação de serviços, que tem subido além da média nos últimos meses, apresentou forte redução no ritmo de alta em maio. Os preços avançaram 0,26% no período, abaixo do 0,69% de abril. "Essa desaceleração foi puxada principalmente por passagens aéreas, que ficaram 10,83% mais baratas no período", observa Lima. Outros fatores explicam a menor pressão sobre serviços, como empregado doméstico e serviços pessoais, que perderam fôlego. "Mas precisamos aguardar mais dois ou três meses para checar se esse comportamento se repete. Por enquanto, não dá para dizer que há uma tendência declinante em serviços."

Apesar da expectativa de inflação menor em maio e junho, os economistas não alteraram suas projeções para o IPCA de 2012. Romão, que estima alta de 4,8% no indicador deste ano, argumenta que, como a redução do IPI para carros acabará em 31 de agosto, a inflação ficará mais baixa em meados do ano, mas se acentuará no último trimestre de 2012. O aumento médio da inflação nos últimos três meses deste ano, antes estimado em 0,45%, subiu para 0,53%.

Em relatório, o BNP Paribas afirmou que vai reduzir suas projeções para o IPCA dos próximos três meses, mas elevará as estimativas de setembro em diante, sem, no entanto, alterar a expectativa de alta de 5,4% para o IPCA de 2012.