Título: Editoras lançam títulos com tiragem menor
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Empresas, p. B4

O mercado editorial brasileiro lançou mais títulos novos em 2005, mas diminuiu a tiragem das obras. Essa foi a estratégia adotada pelo setor para conquistar novos leitores e aumentar o volume de compra daqueles que já consomem o produto. Ao mesmo tempo, é uma forma de enfrentar o baixo índice de leitura dos brasileiros - algo em torno de 1,8 livro per capita.

O mercado editorial cresceu 3,86% em 2005 em relação ao ano anterior e registrou um faturamento de R$ 2,57 bilhões - segunda a pesquisa "Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro", realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e promovida pela pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel).

Em 2005, as editoras apostaram em títulos novos, com o lançamento de 41,5 mil obras, um crescimento de 19,1% em relação ao ano passado. Porém, o número de exemplares produzidos caiu 4,26%, para 306,4 mil. "O mercado está difícil. Uma saída é lançar novos títulos e diminuir a tiragem", afirma Armando Antongini, diretor executivo da CBL.

Nessa tendência, o mercado acreditou nas primeiras edições. Foram 19,2 mil novas obras, um aumento de 32,7% em relação a 2004. Este segmento apresentou também um aumento na tiragem, de 12,3%, para 138,9 milhões. Mas o espaço nas prateleiras para as reedições diminuiu 14,7%, para 167,5 milhões de exemplares. Os lançamentos de reedições cresceu 9,4%, para 22,3 mil títulos.

Os livros didáticos compõem mais da metade do faturamento do setor. As compras governamentais representaram 32,47% do total de livros vendidos no país no ano passado, 87,8 milhões. Esse volume respondeu por 17,4% do faturamento do setor. Em 2005, a compra foi menor já que o governo apenas repôs os livros. Já os didáticos vendidos para o consumidor final responderam por 36,7% da receita do setor e 25,8% dos exemplares comprados no país.

A pesquisa revelou, ainda, a crescente diversificação dos canais de vendas. As bancas de jornais, por exemplo, venderam 48% mais livros do que em 2004 - em parte é o reflexo do aumento das edições de bolso, mais baratos. Os supermercados confirmaram a aposta nessa categoria de produtos. As vendas de livros nas redes varejistas cresceu 60,8%. Já o comércio de obras pela internet teve queda de 7,3%. Segundo a CBL, essa queda ocorre porque as editoras são as únicas empresas do setor que respondem a pesquisa - as livrarias e as empresas pontocom não participam. Nessa edição, 108 editoras responderam ao questionário.

O promissor segmento de obras religiosas apresentou crescimento nos exemplares vendidos - de 24% e atingiram 35,5 milhões de cópias. Mas registrou queda de 2,85% no faturamento, para R$ 231,3 milhões. Segundo Whaner Endo, diretor executivo da Associação dos Editores Cristãos e um dos sócios da W4 Editora, a Fipe considera títulos de outras religiões além dos evangélicos na pesquisa. Ele diz que pode haver uma distorção nos números desse balanço, já que de um universo de 136 empresas consideradas religiosas, apenas 15% delas responderam à pesquisa. "Em 2004, só o faturamento do setor de livros evangélicos foi de R$ 260 milhões", afirma.

Mesmo assim, ele acredita que as editoras possam ter tido uma política de descontos mais agressiva, o que explica a redução no faturamento desse segmento. "O perfil do evangélico, hoje, está mais ligado a classe C e D", diz. No Brasil, há cerca de 35 milhões de evangélicos e o executivo estima que 55% desse total esteja nesses classes.

O segmento de obras técnicas, o mais prejudicado pela pirataria, também apresentou crescimento de 18% nos exemplares vendidos. "Em parte, esse resultado positivo deve ser reflexo da desoneração do PIS /Pasep e da Cofins no final de 2004", diz Eduardo Blücher, da editora Edgard Blücher. "Os editores diminuíram os preços e as vendas aumentaram."