Título: Energias do Brasil mira térmica a carvão
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Empresas, p. B6

O endurecimento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) na concessão de licenças para o funcionamento de novas usinas de energia no Brasil acendeu o sinal amarelo das empresas do setor. Alguns grupos já procuram projetos alternativos ou simplesmente avaliam que investidores deixarão de erguer novas usinas.

Um bom exemplo é a Energias do Brasil. Controlada pelo grupo português EDP, a companhia admite que poderá investir em térmicas a carvão, caso a usina hidrelétrica Rio Madeira confirme a percepção inicial da empresa de que terá importantes riscos ambientais a serem solucionados antes de sair do papel.

"Face às regras atuais para se obter licenças ambientais, já notamos que todos os projetos têm um risco grande. Isso, claro, se refletirá em preços de tarifas maiores", afirma Custódio Miguens, vice-presidente de Geração e Meio Ambiente da Energias do Brasil.

Como a companhia avalia que a matriz à base de gás natural não será competitiva no futuro, por conta de preço e da quantidade disponível no longo prazo, a empresa estuda investir entre US$ 700 milhões e US$ 1,1 bilhão para erguer uma térmica a carvão de 700 megawatts (MW).

No desenho inicial, uma das dúvidas é quanto ao local de instalação. "Caso utilizemos carvão nacional, é normal que instalemos a usina na região Sul. Mas se usarmos insumo importado, deveríamos construí-la perto de infra-estrutura e um bom lugar seria o Nordeste, que inclusive precisará de energia", afirma Miguens.

A opção por térmicas não é a que mais seduz a empresa do grupo português, que possui no Brasil ativos avaliados em R$ 9 bilhões. O foco do grupo é ainda a matriz hídrica.

Mas Miguens diz que precisa de alternativas, principalmente depois que o Ministério Público e entidades ambientais tentam impedir a licitação de três do seis projetos previstos no próximo leilão de geração marcado para outubro. "Sabemos que o Ibama tem função nobre e temos ciência de que é preciso desenvolvimento sustentável, mas as licenças precisam ser obtidas de forma clara", diz o presidente da brasileira Grupo Rede, Evandro Coura.

"A situação energética no Brasil depende substancialmente de agilidade no processo ambiental. Até porque se não tivermos novos projetos em operação, teremos problemas futuros", avalia Luiz Assad, diretor de assuntos regulatórios e institucionais da Elektro, distribuidora controlada pelo fundo inglês Ashmore.

Os cálculos do vice-presidente da Energias do Brasil não deixam dúvidas de como os custos ambientais são altos. Segundo o executivo, os gastos costumam elevar em 14% o investimento para a construção de uma usina, sendo que o mercado costuma aceitar um acréscimo por volta de 10%.

A própria empresa conhece a cartilha. Em outubro próximo, quando inaugura a terceira e última turbina de Peixe Angical, usina hidrelétrica com potência de 452 MW instalada em Tocantins (TO), a Energias do Brasil, que tem como parceira Furnas na usina, terá concluído uma obra que consumiu aportes de R$ 1,6 bilhão. E o executivo assegura que modificações exigidas ao longo da obra a encareceram entre 8% e 10%.

O interesse da Energias do Brasil por geração tem explicação. A empresa deseja ter equilíbrio entre distribuição e geração. Da receita líquida do segundo trimestre, por exemplo, 83% decorreu da distribuição e só 5% da geração. "O grupo tem 7% do mercado brasileiro de distribuição", diz Carlos Loureiro, vice-presidente de Comercialização da controlada da EDP.

Há um ano com ações em bolsa, cujo movimento diário dos papéis é de R$ 7 milhões, a Energias do Brasil estuda investir R$ 754 milhões em 2006, queda em relação ao R$ 1 bilhão de 2005. Mas a cifra do ano passado foi maior por conta de Peixe Angical. Em 2007, contudo, calcula-se R$ 650 milhões.

Parte dos recursos têm como alvo a geração, como a PCH de Santa Fé que consumiria R$ 105 milhões e cuja inauguração seria em 2009. A empresa também estuda participar do próximo leilão de geração.