Título: CPI diz ter provas contra Delta que extrapolam GO
Autor: Junqueira, Caio; Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2012, Politica, p. A9

Mesmo calado durante todo seu depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga sua relação com poderes público e privado, a sessão que inquiriu o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, abriu a possibilidade de alteração de rumos dos trabalhos da comissão.

O motivo é que, ao indagá-lo sobre a relação com a construtora Delta, apontada pela Polícia Federal como o braço legal dos negócios do empresário, o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) acabou por fazer uma revelação. Disse ter tido acesso a provas de que o ex-diretor da empresa para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, tinha permissão para movimentar contas da matriz da empresa, no Rio de Janeiro. O relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), confirmou a informação e foi adiante: isso abre o caminho para que a construtora seja investigada nacionalmente.

"Na medida em que se identificou que a Delta nacional autorizou que Cláudio Abreu, ex-diretor da empresa no Centro-Oeste, movimentasse contas da construtora através de procuração, há um indício forte de que toda a diretoria e a presidência [da Delta] tinham ciência e consentiram com este movimento de Cláudio Abreu. As contas da Delta nacional movimentadas por ele foram instrumentos de transferência de dinheiro para empresas laranja ou empresas ligadas à organização criminosa", disse Cunha.

O petista também declarou que "a probabilidade de quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico da matriz construtora Delta aumentou muito, a partir de informações que temos hoje [ontem]".

Com isso, toda a estratégia traçada pelos petistas de restringir o início das investigações ao Centro-Oeste tem grandes chances de ser alterada, conforme boa parte dos parlamentares da CPI já haviam solicitado na última reunião da quinta-feira passada. Na ocasião, Cunha se negou a colocar em votação requerimento de ampliação das quebras de sigilos da Delta nacional, sob o argumento de que era preciso focar a apuração e limitá-la, pelo menos inicialmente, ao Centro-Oeste.

O silêncio de Cachoeira também permitiu aos parlamentares reverem a estratégia de apostar nos depoimentos dos réus e acusados para colher informações. Isso porque a maioria já espera que essas pessoas adotarão a mesma estratégia de Cachoeira de permanecer calado, alegando direito constitucional.

Em pouco mais de duas horas de depoimento, deputados e senadores presentes perceberam que ao continuarem fazendo perguntas ao acusado, estariam apenas permitindo a seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, tomar nota das perguntas e preparar seu cliente para uma eventual volta à CPI.

Nesse tempo, porém, ficou evidente a estratégia dos principais partidos na CPI. Os petistas centralizaram as questões em Goiás e no seu atual governador, Marconi Perillo (PSDB), citado em diversos áudios captados pela Polícia Federal como beneficiário do esquema do empresário. Por sua vez, os tucanos tentaram trazer as atenções para o Distrito Federal do governador Agnelo Queiroz (PT) e, mais do que isso, ao governo federal. Em especial, a ex-auxiliares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, da Fazenda, Antonio Palocci, e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, atual presidente do Conselho de Administração da holding J&F, que comprou a Delta.

Mas, irritados com as constantes negativas, decidiram adiar o depoimento para, conforme sugerido pelo depoente, depois da inquirição que a Justiça Federal de Goiás fará nos dias 31 de maio e 1 de junho. Até lá devem se debruçar sobre as quebras de sigilos bancários, telefônicos e fiscal que chegam à comissão.

Em entrevista após a sessão, Márcio Thomaz Bastos apontou três etapas a serem cumpridas, antes de Cachoeira falar publicamente. Seu cálculo é que o tempo necessário para cumprimento dessas etapas seriam entre seis e sete semanas.

"Primeiro, temos que estudar as dezenas de milhares de gravação e as dezenas de milhares de páginas escritas do processo", disse.

O segundo fato citado pelo ex-ministro é a oitiva na Justiça de Goiás. 11ª Vara Criminal de Goiás, em 31 de maio ou 1º de junho. "Ele não vai falar antes disso", afirmou Thomaz Bastos, após a reunião da CPI em que seu cliente adotou o direito constitucional de se calar e não responder.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 23/05/2012 12:2