Título: Cúpula nacional do PT pode definir candidato no Recife
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2012, Política, p. A9

A escolha do candidato do PT à Prefeitura de Recife, segunda maior cidade administrada pelo partido, deve ser mais traumática do que o esperado. Depois da confusão ocorrida na prévia de domingo, cujo resultado está sub judice, a decisão final poderá ser tomada pela executiva nacional.

Na reunião extraordinária do comando petista, convocada para amanhã, a previsão é que a disputa interna seja cancelada, afirma o senador Humberto Costa (PT-PE).

O prefeito João da Costa venceu extraoficialmente o secretário estadual de Governo, Maurício Rands, mas o resultado foi contestado pelo grupo de Rands, que reclama de fraude na votação.

Para Humberto Costa, uma vez cancelada a disputa, há três possibilidades de saída: a realização de uma nova prévia entre os filiados; a decisão por um colégio de delegados eleitos; ou até a definição do candidato pela executiva nacional.

"Não foi aprovada aquela resolução na sexta-feira?", justificou.

Costa refere-se à medida referendada em Porto Alegre, na semana passada, em reunião do diretório nacional. A resolução dá poderes ao comando central do PT de homologar candidaturas próprias ou alianças com outros partidos em municípios com mais de 200 mil eleitores ou considerados prioritários.

A centralização da política de alianças do PT é justificada no texto da resolução como uma forma de a direção nacional ter "conhecimento imediato do quadro de alianças das eleições majoritárias nos principais municípios do país" e como modo de manter a base de sustentação ao governo federal.

Entre estes partidos está o PSB, com o qual o PT trava uma difícil negociação há dois meses. A legenda é presidida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se articula para não ver contrariados seus interesses na eleição da capital de seu Estado.

Campos é o principal fiador da pré-candidatura de Maurício Rands, petista que integra seu governo, e a quem considera mais confiável do que o prefeito João da Costa.

Se o prefeito vencer a disputa interna, a expectativa é que o governador quebre a aliança com o PT e apoie o deputado federal Raul Henry (PMDB). Como isso não interessa à cúpula petista, a resolução é vista nos bastidores como instrumento que foi feito sob medida para resolver o imbróglio de Recife, peça mais importante do xadrez que envolve Eduardo Campos, um aliado nacional com pretensões presidenciais.

Além de um desfecho a seu favor em Recife, o presidente do PSB exige o apoio do PT em outras cidades pelo país em troca de uma aliança em São Paulo, onde o pré-candidato petista, Fernando Haddad, está isolado. Para Humberto Costa, que apoia Rands e a aliança com Campos, não há relação, porém, entre a negociação em Recife com a de São Paulo. "Não vejo vinculação", afirma. O apoio do PSB a Haddad teria sido garantido previamente pelo governador ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a escolha do candidato na capital pernambucana arbitrada pela executiva nacional, a previsão é que o acordo Lula-Campos prevaleça, pela influência do ex-presidente sobre o comando do partido. Além disso, Lula está ligado à CNB, tendência majoritária no PT, à qual pertence Rands. A solução por cima, porém, é tida como pior saída para cicatrizar as feridas e unir o partido para a eleição de outubro.