Título: BNP Paribas amplia atuação em commodities no Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Agronegócios, p. B11

O banco francês BNP Paribas, líder mundial no financiamento de matérias-primas, está montando uma equipe em São Paulo para desenvolver o crédito a comercialização de açúcar, etanol, soja e algodão brasileiros no mercado internacional. O responsável mundial de "Commodity Trade Finance" do Paribas, Jacques-Olivier Thomann, disse ao Valor que a expansão no Brasil torna-se necessária pela crescente importância do país na produção e exportação. O plano é ter portfólio de US$ 500 milhões em três anos.

"Vamos ter uma cobertura completa no agronegócio no Brasil", disse Jean-Baptiste Goethals, chefe da divisão de commodities em São Paulo. Thomann explicou que o Paribas já financia soja e tabaco no Brasil, mas através de crédito tradicional a empresas. Para conquistar mais mercado, o banco pretende lançar novos instrumentos para financiar produção, transporte, estocagem e exportação.

Goethals disse que o plano é financiar traders que compram diretamente dos produtores. "É uma grande vantagem para os produtores, porque não terão de carregar o custo de financiamento entre o local da produção e o porto".

O BNP Paribas transferiu sua direção global de financiamento de commodities para Genebra, considerada hoje o centro mundial nesse tipo de operação. O financiamento feito pelos bancos na metrópole suíça chega a US$ 2 bilhões por dia no comércio internacional de matérias-primas - e o Paribas financia pelo menos a metade desse valor.

Entre 65% e 70% das operações envolvem o petróleo. Um terço do comércio de petróleo no mundo é financiado em Genebra, sem transitar fisicamente pela Suíça. Estima-se que o Paribas poderia financiar pelo menos 10 milhões de barris diários.

Os bancos em Genebra nessa área são reputados pela garantia, empréstimos, pré e pós-financiamento ou ainda cobertura "risco-país", com vínculos com grandes tradings, como Cargill, Vitol, Lukoil, Louis Dreyfus, Total, Bunge, Koch.

No financiamento de commodities em Genebra, os bancos recebem as próprias mercadorias como garantia. A avaliação de risco se baseia mais na avaliação da transação da commodity do que no balanço da empresa. É diferente do modelo anglo-saxão, que se baseia em empréstimos, depois de analisar a situação da empresa e estimar o montante de liquidez que pode fornecer.

Thomann nota que a natureza dos financiamentos feitos por essa atividade se desenvolve na rapidez do preço das matérias-primas, trazendo problemas a certos atores do mercado. "Os bancos devem destinar recursos em fundos próprios sempre mais importantes, para manter sua parte do mercado, enquanto as tradings devem desenvolver técnicas cada vez mais sofisticadas para gerar os riscos dessas operações cujos montantes superam centenas de milhões de dólares".

A equipe de commodities de São Paulo ainda não está completa, mas já começou a operar. E vai trabalhar em coordenação com a equipe em Genebra, que tem 300 pessoas.

A expansão para o Brasil faz parte do projeto do banco para os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Na Rússia, o Paribas já opera localmente em commodities, está começando na China, faz estudos na Índia e prepara a ampliação no Brasil. "Somos um ator global, porque tratamos todas as matérias-primas, temos instrumentos de curto e longo prazo, e clientes que são produtores, refinadores, transportadores, traders", disse Thomann.