Título: Maior concentração na indústria de café
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Agronegócios, p. B12

As indústrias de café torrado e moído do país experimentam um novo movimento de concentração, iniciado em 2004 e que ganhou maior ênfase este ano. O mercado nacional também voltou a ser sondado por grupos estrangeiros, que já ocupam a liderança e vice-liderança no mercado de torrado e moído, e a primeira posição no segmento de solúvel.

Importantes companhias internacionais, como Lavazza e Kraft Foods, estão voltando suas atenções para o mercado brasileiro. A Kraft é uma das maiores importadoras de café verde do Brasil, mas ainda não tem negócios na área industrial. A companhia nega que esteja negociando neste momento a aquisição de uma indústria nacional. No mercado, contudo, há notícias de que o grupo está sondando torrefadoras nacionais para entrar neste segmento.

Outra empresa que mapeia o mercado nacional é a italiana Lavazza. A torrefadora está estudando o Brasil, admitiu uma fonte da empresa ao Valor. A companhia vê o mercado brasileiro com potencial de crescimento forte, sobretudo para café expresso.

A participação das empresas estrangeiras nas vendas de café torrado e moído no Brasil está em torno de 25%, ante uma fatia de cerca de 20% em 1998, quando a Sara Lee, atual líder de mercado, entrou no Brasil, adquirindo as cinco principais marcas de café do país (Café do Ponto, Caboclo, Pilão, União e Seleto).

Somente neste ano, foram realizados dois importantes negócios neste setor. A alemã Melitta, quarta no ranking das maiores, adquiriu a Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, aumentando sua participação no Sul do país. Neste mês, a mineira Café Toko assumiu a industrialização e as operações comerciais da Café Minas Rio, reforçando sua posição no Estado. No fim do ano passado, a israelense Strauss-Elite, que já tinha adquirido a Três Corações, formou uma joint venture com a Santa Clara, vice-líder em torrado e moído no país.

Uma das empresas cobiçadas no país atualmente é a Cia. Cacique, detentora da marca Café Pelé para torrado e moído, e Cacique, para solúvel, segundo fontes de mercado. Procurada, a empresa informou que não está em negociação para ser vendida. A mineira Café Bom Dia, de Varginha (MG), também está na mira dos estrangeiros. Segundo Sydney Marques de Paiva, presidente do grupo, diz que a empresa não está è venda e tem sua estratégia voltada para o mercado externo. "Já temos uma boa penetração no mercado americano".

Pulverizado, as indústrias do país representam um universo de 1.200 empresas e mais de 2 mil marcas. "Somos o segundo maior mercado consumidor de café do mundo [atrás dos Estados Unidos], lutando pela liderança", observa Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Levantamento da ACNielsen mostra que esse setor movimentou R$ 3,03 bilhões no mercado interno em 2005, um crescimento de 9,7% sobre o ano anterior. As cinco maiores companhias do país respondem por cerca de 40% das vendas no mercado interno.

A expectativa nos próximos anos é de que o número de indústrias - um total de 1.200 - caia pela metade, por conta do processo de fusões e aquisições e integração entre empresas regionais. O mercado regional de café é estratégico no país, por conta de sua penetração em importantes pólos de produção do país.

Muitas das pequenas empresas deste setor devem fechar suas portas. O perfil dessas companhias é de pequena produção, com atuação nos municípios onde elas estão instaladas. Essa tendência de concentração é considerada o segundo principal movimento depois que a Sara Lee entrou no país. Esse novo "boom" começou a partir de 2004, quando o Café Damasco, de Curitiba (PR), adquiriu a marca Café América, em Salvador (BA), e Café Palheta, no Rio, levando seus negócios para os mercados do Nordeste e do Sudeste.