Título: Crise externa já faz Planalto mirar 2013
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2012, Brasil, p. A4

O aprofundamento da crise na Europa, com risco de colapso no sistema bancário da Grécia, e a desaceleração abrupta na China encontram a economia brasileira ainda frágil e podem prejudicar a retomada do crescimento no segundo semestre. Por outro lado, também podem encurtar o caminho para a realização do objetivo da presidente Dilma Rousseff, de levar a taxa básica de juros (Selic) para a casa dos 2% reais até 2014.

O crescimento da atividade no primeiro trimestre foi aquém do esperado - fontes oficiais mencionam algo em torno de 0,5% sobre o trimestre anterior - e, pelos indicadores antecedentes, não houve reação em abril nem está havendo em maio.

A recuperação da economia brasileira, mesmo depois da acentuada queda da taxa de juros e dos estímulos fiscais já concedidos, está mais atrasada do que contava a área econômica. O PIB, este ano, não será muito melhor do que os 2,7% de 2011.

Há importantes economistas oficiais considerando que o padrão de crescimento global pós-crise será menor e no Brasil, também. Como aqui os investimentos não aumentaram, o produto potencial encolheu em relação ao período anterior à crise de 2008.

As preocupações do Palácio do Planalto se voltam para 2013. Até muito recentemente o governo esperava que a economia americana estivesse recuperando o dinamismo, que a China fozesse um pouso bem suave e que a Europa estivesse a caminho de uma solução que a retirasse da recessão este ano para um baixo crescimento nos próximos.

Isso não está acontecendo. Se a economia brasileira não acelerar no segundo semestre, gerando um bom "carry-over" de crescimento para o próximo ano, o próximo exercício também será difícil. Em janeiro de 2013, por exemplo, o salário mínimo não será corrigido em 14% aconteceu este ano, injetando na economia cerca de R$ 50 bilhões e mantendo crescimento do consumo, lembrou um assessor da presidente Dilma.

Analistas de mercado avaliam que a saída da Grécia da zona do euro, se ocorrer, deve ter o mesmo efeito imediato da quebra do Lehmann Brothers em setembro de 2008: uma abrupta suspensão dos fluxos de capitais para os países emergentes e empoçamento de liquidez. A diferença talvez esteja na duração da crise. "O período de pânico, agora, tende a ser mais curto", acreditam, supondo que a Alemanha agirá para sustentar o euro e dar prazo para outros países se ajustarem, como Portugal e Espanha.

A dramática situação externa, com seus efeitos desinflacionários, e a dificuldade de retomada da economia doméstica formam uma larga avenida para o corte da taxa de juros. No mercado, há quem fale em juros de 7% ou até menos este ano. A desvalorização do real, que pressiona a inflação, é compensada pela queda de preço das commodities.

O Banco Central, porém, não sancionou esses prognósticos. Ao contrário, reiterou nos últimos dias que a flexibilização monetária adicional será feita com "parcimônia".

Ontem, fontes oficiais lembraram que o Banco Central, até agora, apesar de todas as críticas, não errou na mão e pretende entregar a inflação na meta ou muito próximo dela no fim do ano.