Título: Chile anuncia que vai estudar alternativa nuclear
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Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Internacional, p. A9

O governo do Chile anunciou que dará início a estudos sobre a viabilidade de empregar a energia nuclear como parte de sua matriz energética. No país há temores que no ano que vem a Argentina diminua ainda mais o fornecimento de gás a residências e ao comércio no Chile. A alternativa nuclear, no entanto, não seria usada durante a gestão da presidente Michelle Bachelet.

Os estudos deverão contar com a ajuda do Brasil, com quem o Chile assinou um acordo de cooperação. O texto foi ratificado em abril pelo Congresso brasileiro. Na América Latina, apenas Brasil, Argentina e México possuem reatores nucleares para geração de energia elétrica.

"Ninguém pode descartar para sempre o uso de energia nuclear, mas esse é um assunto que deve ser resolvido com base em estudos científicos profundos", disse no domingo o ministro do Interior chileno, Belisário Velascom segundo noticiou com destaque a imprensa local.

"Em breve serão iniciados esses estudos, que levarão dois ou três anos e que são necessários para tomar uma decisão definitiva", acrescentou ele.

O tema é delicado para Bachelet. Em novembro de 2005 ela assinou durante sua campanha eleitoral um termo com ONGs que defendem o meio ambiente no qual se comprometia a "não incluir a energia nuclear na política energética nacional".

O governo enfatiza que há muita diferença entre fazer estudos de viabilidade e construir de centrais nucleares. "A presidente se comprometeu a não usar a energia nuclear, o que não quer dizer que não tenha de haver estudos para se ter respostas acertadas sobre o um problema tão vital para o Chile", disse o ministro.

Nos últimos anos, Buenos Aires vem diminuindo o volume de gás exportado para os chilenos porque o consumo argentino cresce mais que a produção.

"Certamente a energia nuclear deverá compor a solução que o Chile buscará para seu suprimento de energia. O país tem de considerar isso", avalia o coordenador geral de Assuntos Internacionais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Laércio Antônio Vinhas.

Segundo ele, o acordo Brasil-Chile, assinado em 2002, mas ratificado somente em abril deste ano, envolve cooperação e trocas em diversos pontos. Os mais importantes são sobre "núcleo-eletricidade" e sobre critérios para licenciamentos de reatores nucleares. Na América Latina, o Brasil é o país que produz a maior quantidade de energia com base nuclear, 1.900 megawatts, contra 1.300 do México e 935 da Argentina, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica.