Título: Captações externas de US$ 2,8 bilhões no forno
Autor: Petri, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Finanças, p. C3

Ricardo Lacerda, do Citigroup: queda nos juros dos títulos americanos torna mais atrativos os eurobônus brasileiros A partir da semana que vem, com o fim das férias no Hemisfério Norte, uma enxurrada de captações externas brasileiras por meio de eurobônus deverá tomar conta do mercado internacional. Há nada menos do que US$ 2,78 bilhões em operações previstas para acontecer em setembro e outubro de bancos e empresas públicas e privadas. "O ambiente internacional está extremamente benigno para o mercado de renda fixa", diz Ricardo Lacerda, responsável pelo banco de investimento do Citigroup no Brasil.

A queda nos juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, referência para o mercado no mundo todo, ajuda. As taxas despencaram com a pausa promovida pelo Fed (banco central americano) na alta de juros básicos e a perspectiva de que essa pausa será longa, por causa da desaceleração no crescimento da economia do país. Os juros dos papéis de vencimento em dez anos, que chegaram a 5,245% ao ano no dia 28 de junho, seu pico, antes das férias de verão, caíram para 4,753% ao ano ontem, uma redução de 49,2 pontos básicos.

É sobre os títulos americanos que é colocado um prêmio de risco de cada empresa e país para calcular o rendimento exigido pelo investidor para comprar um eurobônus. Os temores de uma recessão no mercado americano fizeram o risco-Brasil subir, é verdade, mas pouco. No seu nível mais baixo, chegou a 206 pontos básicos. Ontem, estava a 217 pontos básicos, apenas 11 pontos básicos a mais. "A queda nos juros dos títulos americanos mais do que compensou a modesta alta recente no risco-Brasil", comenta Lacerda.

"Os mercados estão nadando em liquidez e os fundos de investimento estão com muito dinheiro em caixa", diz John Welch, analista da Lehman Brothers. Segundo ele, há uma escassez de títulos dos mercados emergentes, pois os governos federais desses países estão com sobra de reservas e recomprando dívida externa. Só neste ano, os países da América Latina já injetaram US$ 19 bilhões no mercado, segundo John Welch, com a recompra antecipada de títulos da dívida externa. Somente o Brasil injetou US$ 15 bilhões. Esse dinheiro quer voltar para mercados emergentes, mas não tem encontrado muitos papéis para comprar, visto que há poucas emissões de governos federais, diz Welch.

Os analistas descartam a possibilidade de um movimento abrupto de aumento da percepção de risco, com um movimento de "fuga para a qualidade" forte que reduza de forma significativa o interesse por papéis de países emergentes como o Brasil. "A descida deverá ser suave e os indicadores que mostram desaceleração da economia americana estão impactando mais o mercado de ações do que o de renda fixa", conta Welch. Lacerda concorda e acredita que isso pode contribuir para as empresas brasileiras a se voltarem ainda mais para o mercado de renda fixa em detrimento da renda variável quando quiserem captar.

"Não vejo nenhuma nuvem no horizonte para títulos de mercados emergentes nos próximos dois meses", comenta Carlos Gribel, sócio-diretor da Queluz Securities. O impacto das eleições presidenciais no mercado tem sido quase nenhum, avalia Gribel. "Qual é o grande risco eleitoral, afinal? Eu não vejo nenhum", comenta John Welch.

Gribel conta que a Queluz, especializada em captações de pequeno valor para bancos e empresas pequenas e médias, está com três operações no forno no total de US$ 35 milhões, para lançamento nos próximos dois meses. Ele lembra que na segunda-feira haverá feriado nos Estados Unidos e que o mercado vai começar a esquentar a partir da próxima terça-feira.

O Banco Mercantil saiu na frente e já lançou ontem mesmo operação de US$ 50 milhões, de vencimento em cinco anos, sob a liderança do Finantia e do ING. Sondou os investidores sobre possíveis taxas de juros a serem exigidas. Outros bancos médios, como o Banco Votorantim, o BicBanco e o Daycoval, estão com bônus no forno.

Algumas companhias vão inaugurar sua participação no mercado externo de bônus, como o Frigorífico Independência, com US$ 100 milhões, ou a empresa de aluguel de carro Unidas, com US$ 50 milhões, segundo o "IFR Markets". Operações como a da Gerdau, de US$ 400 milhões, previstas para sair em junho ou julho, antes das férias, podem voltar. A Petrobras deve lançar até US$ 1 bilhão em títulos e a Braskem, US$ 275 milhões, segundo anunciaram, em operações chamadas de gerenciamento de passivos - recompra antecipada de títulos mais curtos com juros maiores e emissão de papéis mais longos com juros menores. A Companhia Siderúrgica Nacional não descarta novas emissões para investimentos e elas poderão vir já em setembro ou outubro. A Sabesp contratou o Deutsche Bank para captar, segundo o "IFR Markets".