Título: Clube Naval vai conduzir investigação paralela
Autor: Serodio , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2012, Especial, p. A14

No fim de março, o Clube Naval criou uma comissão para "acompanhar" os trabalhos da Comissão da Verdade. Agora, a diretoria do clube, formada por militares da reserva, quer o apoio dos similares da Aeronáutica e do Exército na iniciativa. Hoje, a diretoria do Clube Naval se reúne com membros do Clube da Aeronáutica e do Clube Militar para debater o assunto.

"Nós nos adiantamos, mas gostaríamos de ter também os companheiros dos dois clubes fazendo as suas comissões", diz o presidente do Clube Naval, o vice-almirante da reserva Ricardo da Veiga Cabral. "Se forem criadas, vamos trabalhar estreitamente ligados", afirma. Cabral defende uma comisão interclubes.

As três entidades mantêm um diálogo estreito, nas palavras do almirante. E a criação de mecanismo para acompanhar a Comissão da Verdade sempre foi discutida entre os clubes. "Os militares não pretendem intervir nos trabalhos da Comissão da Verdade", disse o almirante da reserva, Ricardo Cabral. A ideia é que a comissão criada pelo Clube Naval assessore juridicamente integrantes chamados a depor. "Se for chamado alguém da Marinha, vamos procurar assessorá-lo e defendê-lo para que ele não fique isolado em ambiente hostil, como parece ser o caso", diz Cabral. A comissão do Clube Naval é formada por sete de seus integrantes, todos voluntários.

O almirante da reserva critica a indicação da advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, que defendeu a presidente Dilma Rousseff durante o regime militar, para integrar a Comissão da Verdade: "Não parece ter muita gente simpática aos militares na sua composição."

O almirante diz que os militares veem a Comissão da Verdade com desconfiança, e suspeitam que a iniciativa tome partido. "Os militares temem que haja uma tendência para analisar os fatos sob a ótica dos militantes da época", explica. Ele pede que "os trabalhos fluam de forma ética e imparcial, para não distorcer a verdade".

Sem citar nomes, ele diz que militares da ativa apoiam a iniciativa. "O que eles não vão querer é ser vilipendiados e não terem ninguém que fale por eles, já que não podem falar. Ninguém gosta de ver a sua profissão ser vilipendiada", diz.

Segundo relatou, o jovem militar Cabral foi contrário ao levante armado contra o governo João Goulart, quebra de hierarquia que caracteriza como inaceitável. "Eu não me mantive neutro. Também não estava de acordo com aquela esculhambação que havia no Brasil. Não havia segurança em parte alguma", critica, recordando a sublevação dos cabos contra superiores hierárquicos.

Passados 48 anos do golpe, Cabral defende os anos do regime militar. "Às vezes pra crescer a gente precisa ser um pouco duro. Veja a China, como é que a China cresceu?"

Procurado pelo Valor, o Clube da Aeronáutica não quis conceder entrevista. Por meio de sua assessoria, o clube confirmou a reunião de hoje e informou que a Comissão da Verdade pode ser discutida no encontro.