Título: Rural lucra R$ 3,3 milhões no semestre
Autor: Carvalho, Maria
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Finanças, p. C4

O Banco Rural fechou o primeiro semestre com lucro líquido consolidado de R$ 3,326 milhões. Foi o primeiro semestre do banco no azul desde 2004. Mas, a saída do vermelho foi garantida pelo resultado não operacional, basicamente feito com a venda de aeronaves dentro do plano de reestruturação da instituição.

No primeiro semestre de 2005, o Rural teve um prejuízo de R$ 129,73 milhões; e, no segundo, de R$ 90,858 milhões. Assim como outros bancos médios, o Rural foi afetado pelo aperto de liquidez que se seguiu à quebra do Banco Santos, no final de 2004. No ano seguinte, quando se recuperava, acabou envolvido na crise do "mensalão". "O ano de 2005 foi duríssimo para o Banco Rural", escreveu a administração no relatório que encabeça o balanço deste semestre.

O banco então mergulhou em um plano de ajuste, traçado com a ajuda de respeitados especialistas do setor, que implicou a redução das agências e do quadro de funcionários; e a concentração em nichos selecionados.

Em entrevista por email, o banco afirmou considerar "substancialmente completo o ajuste de sua estrutura de custos às operações atuais". Para o banco, a melhoria decorrerá do "retorno de captações, que já se encontram em crescimento, para os quais estão sendo implementadas novas famílias de produtos". Os recursos serão canalizados para as duas áreas em que o Rural resolveu especializar-se: middle market e crédito consignado.

Com o esforço feito, o Rural melhorou os resultados. Ainda assim, teve um prejuízo operacional no balanço consolidado de R$ 3,793 milhões, embora inferior ao de R$ 172,509 milhões do primeiro semestre de 2005.

O ajuste realizado implicou a venda de ativos - basicamente aeronaves, informou o banco por email - que garantiu o resultado não operacional de R$ 6,143 milhões no balanço consolidado (R$ 6,862 milhões). Com isso, o banco cobriu a perda operacional e ainda gerou lucro.

Em função do ajuste, a carteira de crédito diminuiu mais 54%, de R$ 2,817 bilhões em junho de 2005 para R$ 1,295 bilhão em junho passado. Os créditos classificados com risco superior a C subiram de 11,2% no final de junho de 2005 para 27,7% da carteira total em junho passado.

Os depósitos a prazo caíram pela metade, de R$ 826,117 milhões para R$ 411,335 milhões entre o primeiro semestre de 2005 e igual período deste ano. E o patrimônio recuou de R$ 525,496 milhões para R$ 337,962 milhões. Mas, o Rural lançou mão de outros instrumentos de captação, lançando fundos de investimento em direitos creditórios (FDICs) que totalizaram R$ 200 milhões. Segundo nota do balanço, o banco negocia novos lançamentos envolvendo valor cinco vezes maior.

O Rural informou no balanço que, em dezembro, comprou os 49% restantes da RS Financeira, especializada em consignado, incorporada ao banco. Segundo parecer dos auditores, a Deloitte, a RS havia resgatado com ágio as próprias ações, então em mãos de minoritários. A Deloitte lembrou que a Lei das S/A não permite a aquisição das ações próprias por valor superior ao saldo de reservas de lucros acumulados na data-base da transação. Mas, acrescentou, o banco e seus consultores jurídicos acreditam que a transação será homologada pelo BC. A Deloitte também observou que o banco tem saldo elevado de crédito tributário - R$ 173,402 milhões no controlador e de R$ 197,565 milhões no consolidado - que, segundo a administração, deverão ser realizados com lucros nos próximos 10 exercícios.