Título: PT vai propor à CPI quebra de sigilo e convocação de Perillo
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2012, Política, p. A8

Para demonstrar não haver qualquer acordo de blindagem de governadores na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as relações do empresário Carlinhos Cachoeira com os poderes público e privado, setores do PT querem avançar as investigações sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Na próxima reunião administrativa da comissão, agendada para 5 de junho, o partido avalia aprovar requerimentos para a quebra do sigilo bancário e telefônico do tucano, além de sua convocação para depor. "O PT vai pedir a convocação do Marconi Perillo, pois há elementos para convocá-lo", afirmou ontem ao Valor o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

No entanto, isso não deve se estender aos outros governadores suspeitos de ligação com Cachoeira e com a Delta, como Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro que, como prometeu o ex-líder do governo integrante da CPI, Cândido Vaccarezza (SP), será blindado pelo PT. "Não há nada contra esses outros governadores que possa resultar em convocação ou quebra de sigilo. Contra o Marconi Perillo, há."

Marconi Perillo era o terceiro elemento do foco definido pelo PT como o interesse maior do partido na CPI. Os outros dois eram o procurador-geral, Roberto Gurgel, e a imprensa, especialmente a revista "Veja". A ação do PT e do senador Fernando Collor, aliados nesses objetivos, ficou frustrada até agora.

De acordo com Tatto, os partidos que forem contrários à convocação ou à quebra de sigilo do tucano deverão "mostrar a cara" e dizer o motivo de suas posições. "Os partidos que se posicionem. Vamos ver quem será contrário. Só não vamos aceitar essa versão de que tudo vai acabar em pizza. O PT cansou de preservar os outros. De fazer muita mediação com a oposição em nome de uma política respeitosa. Daqui para a frente quem quiser votar em favor de alguma coisa que mostre a cara." Tatto disse ainda que irá construir esse entendimento internamente no partido e com a base aliada. "É um processo. Temos uma semana para decidir."

O problema é que dentro do próprio PT há setores que avaliam ainda ser cedo para avançar sobre Perillo. Uma ala defende que na reunião do dia 5 o partido se articule apenas para aprovar as quebras de sigilo do governador. Outra ala, que se aguarde a análise dos documentos que chegarão á comissão nos próximos dias, com a quebra dos sigilos de pessoas próximas ao governador. Em posse desses dados, avalia-se quão próximo ou ciente Perillo estava de Cachoeira e o esquema revelado pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal. A partir daí, decide-se pela convocação ou não dele.

"O que não pode é convocar o Perillo e ele vir aqui e falar o que quiser. Precisamos ver esses sigilos das pessoas próximas a ele que chegarão à CPI para fundamentar as quebras de sigilo e sua convocação", disse um petista. A Executiva do partido deve analisar essa hipótese em uma reunião marcada quinta-feira, cujo objetivo é debater o problema das prévias da legenda em Recife.

De qualquer modo, os petistas articulam uma estratégia para desfazer a imagem de "acordão" entre PT, PSDB e PMDB sobre as investigações sobre seus governadores. Imagem essa reforçada com a troca de mensagens flagradas pela televisão entre Vaccarezza e Cabral, em que o petista afirma que "a relação com o PMDB vai azedar", mas pede ao governador para não se preocupar, uma vez que "você é nosso e nós somos teu".

Assim, construir uma maioria no partido e na base que apoie as quebras de sigilo e a convocação de Perillo seria, para integrantes do PT, a melhor forma de responder às críticas de que esse "acordão" foi feito para proteger os governadores.