Título: Estratégia visa negociação com Campos
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Fonte: Valor Econômico, 22/05/2012, Política, p. A10

Nas últimas duas eleições em 2004 e 2008, o avanço do PT no plano municipal encontrou um único concorrente à altura: o PSB. O partido liderado pelo governador de Pernambuco Eduardo Campos seguiu na esteira desde que os petistas alcançaram o poder federal em 2003. A competição entre aliados chega ao momento mais acirrado.

O PSB, com as pretensões presidenciais de Campos, joga mais pesado. Até agora não apoiou o pré-candidato do PT em São Paulo, Fernando Haddad, sob a justificativa de que precisa ser recompensado em várias cidades pelo país.

O centro nervoso da discórdia, no entanto, concentraria-se numa única cidade: Recife. Antes de avançar ao Planalto, Eduardo Campos estaria preocupado em proteger seu território. Por isso, quer alguém de confiança na prefeitura da capital. A derrota extraoficial de seu secretário de Governo, Maurício Rands, na prévia realizada pelo PT anteontem, ameaça o plano e lhe dá uma justificativa para romper com os petistas.

Na sexta-feira, o secretário nacional de Organização do PT, Paulo Frateschi, relativizava, em Porto Alegre, a queda de braço que envolve um punhado de cidades como Duque de Caxias (RJ), Mossoró (RN), Franca (SP) e Cuiabá (MT): "Isso pode ser um dado esquecido se passar Recife [se ocorrer a vitória de Rands na prévia]. É mais para a defesa dele [Campos]. Pode ser que um caso resolva tudo".

O petista reconheceu que a resolução aprovada, no mesmo dia, e que dá poderes à executiva nacional do partido para homologar as candidaturas em cidades com mais de 200 mil eleitores, foi feita sob medida para negociar com Campos.

A resolução permite uma decisão centralizada, na qual o PT poderá oferecer seu apoio nas cidades desejadas pelo PSB. Frateschi argumenta que a medida não é um simples meio de entregar os pontos. Pelo contrário, fortalece o partido diante do PSB. Por um lado, lembra, Eduardo Campos sabe que, agora, a cúpula petista tem uma arma para mudar decisões tomadas pelos diretórios municipais. "Mas isso não é para que eu ceda tudo. É para que eu inclusive possa não ceder nada. Ele sabe do jogo que vai entrar", disse Frateschi. A centralização é apontada ainda como forma de responder às pressões do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI do Cachoeira, que quer o apoio do PT a seu grupo em Campina Grande. Outro objetivo, de potencial traumático, seria o de alterar o processo em grandes diretórios, como Recife e Porto Alegre. Na capital gaúcha, o PT poderia abdicar da candidatura própria em favor da deputada Manuela D"Ávila (PCdoB) e receber o apoio dos comunistas em São Paulo. (CK)