Título: China sinaliza com mais estímulo ao crescimento
Autor: Hook , Leslie
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2012, Internacional, p. A13

O premiê da China, Wen Jiabao, preparou o caminho no fim de semana para uma nova rodada de políticas voltadas ao crescimento da economia, o que levou mercados asiáticos e de commodities a subir, na expectativa de uma onda de medidas de estímulo na segunda maior economia do mundo.

Economistas alertaram, porém, que os comentários de Wen não significam que Pequim prepara o mesmo tipo de pacote "big bang" lançado depois da crise financeira de 2008. Acreditam que qualquer estímulo provavelmente será gradual e cauteloso.

O receio de uma desaceleração da economia chinesa vêm pesando sobre o desempenho das commodities e ações em todo o mundo. Os comentários de Wen foram o primeiro sinal claro de que Pequim planeja adotar políticas para estimular a expansão econômica.

"Deveríamos continuar adotando políticas fiscais pró-ativas e uma política monetária prudente, enquanto damos maior prioridade à manutenção do crescimento", disse Wen, cujas declarações logo dispararam uma onda de alta nos mercados acionários da Ásia.

Os comentários, embora apenas com uma pequena mudança na escolha de palavras, foram considerados como sinal claro da preocupação de Pequim com a perda de força dos indicadores econômicos.

Embora oficialmente o crescimento econômico tenha sido de 8,1% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2011, o volume de novos empréstimos e as importações de commodities despencaram nos últimos 30 dias, sinal de que a economia enfrenta mais problemas do que os índices principais indicam.

Wen delineou um conjunto amplo de políticas graduais para manter o crescimento econômico bem encaminhado, como a concessão de mais créditos para grandes projetos de infraestrutura, o corte no custo de financiamento, redução de impostos e mais empréstimos para pequenas e médias empresas. O premiê indicou também que deverá ampliar um programa para encorajar a compra de eletrodomésticos e materiais de construção.

"Ele quer pisar um pouco mais no acelerador e menos do freio do que antes", disse Yu Song, economista do Goldman Sachs. "Essa declaração é a sua expressão de preocupação mais clara nos últimos seis meses."

Analistas disseram que a mudança de direção nas políticas dará mais espaço para governos locais levarem adiante projetos de investimento de grande escala e pode significar mais apoio do governo central a esses planos.

Não há indicações, no entanto, de que Pequim abriria a torneira de crédito da mesma forma que na esteira da crise financeira. "Não haverá um grande pacote, mas os esforços graduais serão muito significativos", disse o economista Ken Peng, do BNP Paribas. "Pouco pode ser feito com a política monetária neste momento, mas a política fiscal tem mais espaço para medidas pró-crescimento."

Wen fez as declarações durante visita a áreas próximas à cidade Wuhan, centro industrial com dez milhões de habitantes. Em longo texto divulgado no site do governo chinês, ele descreveu seus encontros com dezenas de líderes empresariais na região e expressou suas preocupações com a queda na demanda e nas vendas.

O executivo-chefe da fabricante de produtos eletrônicos Hai"er disse a Wen que as vendas de eletrodomésticos caíram 13% no primeiro trimestre de 2012, em relação aos mesmos meses do ano passado. O chefe da Wuhan Heavy Duty Machine Tool Group afirmou que as vendas estavam constantes, mas que havia menos novos contratos sendo assinados.

A crise da região do euro e o enfraquecimento da economia mundial desaceleraram o crescimento das exportações da China para meros 4,9% em abril, na comparação anual. Em abril de 2011, a expansão havia sido de 29,9%.