Título: Brasil só cresce mais com reformas, diz Meirelles
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Finanças, p. C8

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que o crescimento da economia a taxas mais elevadas dependerá da aceleração de reformas estruturais, como tributária, previdenciária e judiciária.

Depois de participar de reunião com outros banqueiros centrais no Banco de Compensações Internacionais (BIS), Meirelles considerou que as condições econômicas estão dadas para o país fazer as reformas, que poderiam incluir também a própria independência do BC.

"Pela primeira vez, o Brasil está com crescimento sustentável, sem desequilíbrios e a economia está ancorada em bases sólidas", afirmou. Pouco antes, foi o presidente do Banco Central da China que deu entrevista, falando de todo o contrário do que se passa no Brasil. Está preocupado com o crescimento "excessivo" no primeiro semestre, superior a 10%, e acena com alta de juros para conter a expansão econômica no segundo semestre e em 2007.

Para Meirelles, não se pode comparar o Brasil a China e também se deve esperar até o final do ano para julgar se o país é o emergente que cresce menos. Em todo caso, avisou que as condições fundamentais estão dadas para este ano, com a expansão induzida pelo consumo interno.

O Banco Central prepara-se para divulgar este mês o relatório de inflação, que inclui a "nova" estimativa do Produto Interno Bruto (PIB). Indagado sobre essa "nova" taxa, Meirelles ressalvou que isso pode inclusive coincidir com a anterior, que foi 4%. Mas insistiu que não tem o numero ainda.

Depois de mais de sete horas de reuniões ontem em Basiléia, Meirelles insistiu que, no momento em que o mundo todo está se preocupado com riscos diversos, o país pode discutir seu futuro e a possibilidades de crescer a taxas mais acentuadas.

Ele não fala de taxa ideal nem potencial de crescimento da economia, porque o país está "numa melhora de fundamentos". Mas repetiu o receituário: manter inflação na meta por tempo suficientemente longo, de vários anos, para os prêmios de risco continuar a cair e as taxas de juros de longo prazo declinarem.

Meirelles disse ter ouvido de outras autoridades monetárias a importância da manutenção de política monetária e cambial "que estão dando certo". Também recomendaram manter o superávit primário num nível suficiente para continuar com a trajetória cadente da relação dívida pública/PIB.

"Essa é a parte que está dando certo, agora o país deve se dedicar para que o crescimento seja ainda maior". Isso significa fazer toda uma série de reformas estruturais na economia, principalmente na área fiscal, para tornar a estrutura tributaria mais eficiente e racional.

Embora tentando evitar o tema, Meirelles não rejeitou a inclusão, nessas reformas, da independência do Banco Central. Curiosamente, esse é agora um tema central na Europa, com alguns ministros de finanças exigindo a "intensificação de diálogo" com o Banco Central Europeu para visar expansão econômica maior. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, rejeitou categoricamente e insistiu na independência da autoridade monetária.

O presidente do BC reiterou que a inflação no Brasil está dentro da meta. E lembrou que, na medida em que a sociedade se convencer de que isso de fato acontece, o custo para manter o controle inflacionário passará a ser menor. (AM)