Título: Multiplicação das reservas leva países a investir em ativos de risco
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Finanças, p. C8

As economias emergentes acumulam reservas oficiais num ritmo sem precedentes, já alcançando US$ 2,7 trilhões, mais da metade do total mundial. O BIS adverte os países da Ásia, principalmente, que intervêm para manter suas moedas com taxa de cambio baixa, que poderão ser forçados a aumentar os juros ou deixar a moeda valorizar se a inflação subir, com custo tornando-se mais elevado.

A China sozinha detém 20% das reservas globais, com quase US$ 1 trilhão, quatro vezes mais que toda a América Latina. O volume do Brasil aumentou de US$ 15 bilhões para US$ 71 bilhões nos últimos quatro anos. Globalmente, as reservas em poder dos bancos centrais alcançaram US$ 4,9 trilhões no final de março deste ano, equivalente a 11% do PIB mundial. As reservas dos emergentes permitiram mesmo países com excedentes nas contas correntes a evitar a valorização de suas moedas. China, Cingapura, Malásia e Taiwan, por exemplo, tem taxas de cambio entre 5 a 10% mais baixa do que há seis anos. A Arábia Saudita, rica pelo petróleo, desvalorizou sua moeda acima de 20%. Mas o banco alerta que, apesar de períodos de juros e inflação baixos, a acumulação ampla e prolongada pode criar outros riscos, incluindo alto custo de intervenções, desequilíbrios monetários, aquecimento nos mercado de crédito e ativos e sistema bancário com mais distorções.

O BIS constata também que as autoridades monetárias estão alterando a gestão das reservas, mostrando apetite por investimentos mais arriscados e rentáveis. O enorme volume de reservas faz das autoridades monetárias um ator importante nos mercados financeiros internacionais. Mudanças na gestão das reservas podem ter maior impacto na demanda de certos ativos e preços.

O principal investimento dos portfólios dos BCs sao bônus governamentais. Mas a diversificação começou, com aplicações em bônus de empresas, títulos imobiliários etc. Isso ampliou também uma saída de ativos em dólar americano. O BIS acha que essa diversificação pode ser acelerada no futuro, e ajudar o euro como possível alternativa para dólar americano nas reservas oficiais.

Historicamente, o grosso das reservas oficiais era em ouro, mas a situação mudou nas ultimas três décadas. A parte do metal declinou de 60% em 1980 para menos de 9% do total em 2005. A maior parte, US$ 4,3 trilhões, está em ativos em moeda estrangeira, principalmente depósitos e títulos - comparados a ouro - valendo US$ 500 bilhões.

A importância crescente das reservas das economias emergentes é evidente. Elas pularam de US$ 195 bilhões em 1995 para US$ 2,7 trilhões dez anos depois. O grupo acumulou reservas de US$ 250 bilhões por ano (3,5% de seu PIB combinado) entre 2000-2005, com maior rapidez na China, Coréia do Sul, Índia, Malásia, Rússia e Taiwan. Mas o aumento das reservas tem sido modesta como percentagem do PIB na América Latina, com total de US$ 244 bilhões.

Os países em desenvolvimento alocam um terço de suas reservas internacionais em depósitos e preferem ativos denominados em dólares, nos dois casos, mais do que países industrializados. A moeda americana continua dominante, mas sua parte no total das reservas internacionais declinou de 70% em 1970 para 66% e 59% dos depósitos. O euro representa 24%, e a libra esterlina substitui o yen japonês como terceira moeda.

O estudo não leva em conta a composição das reservas da China, porque somente uma pequena porção é depositada em bancos que dão informações ao BIS. Mas mesmo a pequena mudança nessa composição pode ter impacto importante no mercado. (AM)