Título: BIS vê 'exuberância' em emergentes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Finanças, p. C8

Os mercados emergentes, incluindo o Brasil, recuperaram grande parte da "exuberância" que os caracterizaram no começo do ano. Não apenas os '"spreads" da divida dos emergentes caíram a níveis históricos, como retomaram a tendência de queda. A constatação é do Banco de Compensações Internacionais (BIS) em seu relatório trimestral sobre a situação financeira internacional.

O banco dos bancos centrais registrou entrada liquida de recursos nos emergentes no começo de agosto e prevê "fila grande" de emissões neste mês de setembro, para tirarem vantagem das condições favoráveis de crédito no mercado global.

O reforço nos fundamentos dos países ajudou a reduzir o risco dos emergentes. Em julho e agosto, uma das três agências de classificação de risco melhorou 24 vezes a nota de 12 países, incluindo China, Índia, Indonésia e Rússia. O julgamento decorre de melhoras de indicadores externos e melhor perspectiva fiscal.

Também foram beneficiados pela percepção nos mercados de juros estáveis nos EUA, além de inflação menor do que previsto. Mas o relatório foi fechado antes de novas inquietações de investidores na semana passada com sinais de mais pressões inflacionária no mercado americano.

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, considera que o Brasil está particularmente beneficiado e preparado. Ele disse que, em reuniões com autoridades monetárias, ontem, no BIS, o que chamou a atenção foi a posição "muito favorável" em que se encontra o país.

"O Brasil tem condições de, pela primeira vez em muito tempo, não ficar dependente da evolução do cenário da liquidez internacional para continuar a crescer", afirmou. "O Brasil está em processo de flexibilização monetária quando o mundo está em processo de aperto, tem inflação na trajetória e os fundamentos da economia muito sólidos".

Em seu relatório, o BIS especifica a melhora do risco-Brasil, que de 13 de junho a 1º de setembro caiu quase 51 pontos-base, para 222 pontos-base. Mesmo nos mercados tipicamente mais voláteis, os spreads para créditos a países latino-americanos como Brasil e México declinaram a níveis que prevaleciam antes das turbulências de maio e junho.

Em meados de agosto, o índice Embi Global, calculado pelo JP Morgan Chase, caiu quase 180 pontos-base, ficando próximo do nível mais baixo de todos os tempos, de 174 pontos-base no começo de maio.

O BIS calcula que até 1º de setembro, já foram recuperadas mais da metade das perdas ocorridas nas turbulências que abalaram os emergentes em maio e junho com saída maciça de recursos. Mas a volatilidade permaneceu acima de seu nível anterior, indicando maior incerteza entre os investidores sobre a evolução das cotações no médio prazo.

No segundo trimestre, as emissões de economias emergentes declinaram fortemente, totalizando apenas US$ 31 bilhões, o menor volume em dois anos e apenas a metade do montante captado no primeiro trimestre. As emissões líquidas ficaram próximo de zero. Mas essa queda não tem relação com as turbulências que atingiram os mercados no mês de maio. Na verdade, refletem posição financeira favorável de vários países emergentes. Muitos governos no primeiro trimestre já tinham pego todo o dinheiro de que necessitavam e fizeram foi pagar parte de suas dividas externas. Na América Latina, vários governos, até então os mais ativos captadores dos mercados emergentes, fizeram pagamentos substanciais no segundo trimestre, como foi o caso do Brasil.

Os dados mais recentes sobre os créditos bancários internacionais, que são do primeiro trimestre, também dão indicadores favoráveis sobre o Brasil. Os empréstimos de bancos internacionais a economias emergentes bateram recorde no período, com um montante de US$ 99 bilhões. Na América Latina, os US$ 13,7 bilhões de novos créditos a América foram quase todos destinados ao Brasil. Foi o maior volume nos ultimo cinco anos para o país, que teve entrada liquida de US$ 2,4 bilhões. Ao mesmo tempo, o fluxo de dinheiro que partiu da região para bancos no exterior alcançou US$ 12 bilhões, principalmente resultado de novos depósitos originários do Brasil. Globalmente, os empréstimos internacionais alcançaram o recorde de US$ 1,4 trilhão no primeiro trimestre. O estoque total alcança US$ 22,8 trilhões.