Título: Proposta do governo de redução na tarifa preocupa elétricas
Autor: Polito, Rodrigo; Nogueira, Marta
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2012, Empresas, p. B9

Executivos de grandes empresas elétricas brasileiras demonstraram ontem preocupação com a estratégia, em estudo pelo governo, de reduzir o custo da energia do país por meio da retirada dos reajustes anuais das tarifas com base nos índices de inflação, no processo de renovação das concessões que expiram a partir de 2015. Representantes de AES, Cemig e CPFL temem que a medida trave novos investimentos no setor, às vésperas de grandes eventos no país, como a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

"Essa é uma discussão que transcende o setor elétrico. Envolve a economia como um todo. Não basta só desindexar tarifas, porque esse filme já vimos antes. É o primeiro passo para a inadimplência generalizada", disse o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla, durante o Rio Investors Day, evento promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, que reúne presidentes e diretores financeiros das principais empresas de capital aberto. "Se a distribuidora for afetada financeiramente, ela afeta toda a cadeia", completou.

A proposta de desindexar as tarifas de energia elétrica, a partir da renovação das concessões, foi levantada pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Nas últimas semanas, o governo federal vem sinalizando ao setor produtivo que estuda medidas para reduzir o custo da energia, para aumentar a competitividade da indústria brasileira e estimular o crescimento econômico do país.

O presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Jr., também alertou para a rigidez do terceiro ciclo de revisões tarifárias, cujas regras restringem os ganhos das distribuidoras. Segundo ele, o processo vai reduzir de 15% a 20% as margens da área de distribuição da companhia, que possui oito distribuidoras. A medida também causará uma queda de 9% das margens totais do grupo.

O presidente da AES Brasil, Britaldo Soares, afirmou que a redução do custo de energia não pode ocorrer unicamente no segmento de distribuição. Segundo ele, a participação do segmento na formação da tarifa de energia vem caindo gradativamente. Neste terceiro ciclo de revisões, a parcela da distribuidora na composição da tarifa cairá de 21% para 16%, no caso da AES Eletropaulo.

"[O setor de distribuição] teve uma evolução da qualidade do serviço tremenda. Teremos um aporte de tecnologia e desafios para a frente. A modicidade tarifária deve ser vista desse ponto estratégico, não pode ser só da redução do custo de energia", ressaltou Soares.

Os executivos concordaram que as regras do terceiro ciclo de revisões tarifárias vão estimular movimentos de fusões e aquisições no segmento de distribuição. As empresas buscarão ganhar escala, para reduzir custos e serem mais eficientes, garantindo retornos melhores para os seus acionistas.

Por essa avaliação, Ferreira Jr. admitiu que a CPFL vê com interesse as distribuidoras do grupo Rede que estão localizadas em São Paulo. "[Distribuidoras] de São Paulo, sem dúvida nenhuma temos interesse. Na Celpa [que também pertence ao Rede] não, porque está fora da nossa área [de atuação]".

O diretor financeiro e de relações com Investidores da Cemig descartou o interesse da companhia pelas empresas do Rede, por julgar que a situação financeira das distribuidoras do grupo impede os ganhos que a empresa mineira teria com a operação.

Rolla contou que a estatal tem interesse em adquirir a participação de 39% da Iberdrola na Neoenergia, que possui três distribuidoras na região Nordeste. O executivo, no entanto, explicou que a Cemig não foi informada do interesse de venda pela elétrica espanhola e frisou que não houve nenhuma negociação nesse sentido até o momento.

"[Na área de distribuição] escala é tudo. A Neoenergia tem uma grande área de concessão e com um grande potencial de crescimento do mercado consumidor", afirmou o executivo da Cemig.