Título: Partido Democrata deve dificultar renovação da TPA
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2007, Brasil, p. A4

Líderes do Partido Democrata no Congresso dos EUA deram ontem uma amostra das dificuldades que o presidente George Bush irá encontrar para renovar a autorização legislativa especial que lhe dá poderes para negociar acordos comerciais, instrumento indispensável para a retomada das negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial.

Os democratas indicaram que exigirão mudanças na política comercial americana e em várias outras áreas em troca do que Bush deseja. Mas, ao mesmo tempo, suas lideranças demonstraram que o assunto provoca divisões dentro do próprio partido, o que contribuirá para tornar as negociações com o governo Bush mais complicadas.

O presidente da Comissão de Meios e Modos da Câmara de Representantes, Charles Rangel, disse que a extensão da Autoridade para Promoção Comercial (TPA, na sigla em inglês) dependerá de "boa dose de confiança"" entre governo e oposição e de garantias de que as preocupações dos democratas serão consideradas a partir de agora.

Outro democrata com influência na discussão, o presidente da Comissão de Finanças do Senado, Max Baucus, disse que a prorrogação da TPA será uma "oportunidade para enfrentar preocupações legítimas dos americanos sobre o comércio" e apresentou uma lista de medidas que gostaria de ver postas em prática pelo governo.

Numa audiência convocada para debater o tema ontem pela manhã, o deputado Sander Levin, democrata que passou a presidir a Subcomissão de Comércio da Comissão de Meios e Modos, disse que Bush "pôs a carruagem na frente dos cavalos" ao pedir a extensão da TPA antes de introduzir mudanças na forma como vem conduzindo a política comercial americana.

Os poderes que a TPA concede a Bush expiram no fim de junho e sem sua renovação será impossível destravar a Rodada Doha. O instrumento cria limites para o que o governo pode fazer na mesa de negociações, mas impede que os congressistas façam emendas nos acordos negociados pelo governo quando eles forem submetidos ao seu aval.

Os democratas querem usar a discussão da TPA para impor padrões trabalhistas e ambientais mais exigentes aos parceiros comerciais dos EUA. Eles também querem ampliar os programas do governo que oferecem ajuda a trabalhadores de indústrias afetadas pela competição com países como a China, reforçando o seu orçamento e estendendo seu alcance ao setor de serviços.

"O preço que os democratas vão cobrar para renovar a autorização de que Bush precisa pode ser alto demais", disse ao Valor o economista Gary Clyde Hufbauer, do Instituto Petersen para a Economia Internacional, um influente centro de estudos. "Um acordo com a administração é possível, mas improvável."

Bush pedirá a renovação da TPA hoje, num discurso em Nova York. Ontem ele defendeu sua política comercial durante visita a uma fábrica da Caterpillar no Estado de Illinois. "Vamos continuar negociando acordos de livre comércio", disse Bush. "Confio na nossa capacidade de vender produtos e serviços americanos para o exterior, se as regras do jogo forem equilibradas."

As divisões entre os democratas ficaram claras na audiência de ontem na Câmara. Rangel adotou um tom bastante conciliatório, mas Levin disse que a renovação da TPA só deveria ser discutida depois que a administração aceitasse rever os capítulos ambientais e trabalhistas dos acordos negociados recentemente pelos EUA com Peru, Colômbia e Panamá, que ainda não foram aprovados no Congresso.

Uma das propostas em discussão entre os democratas, exposta na audiência de ontem por Gene Sperling, assessor econômico do ex-presidente Bill Clinton em seu segundo mandato, prevê a renovação da TPA por alguns meses e apenas para a conclusão da Rodada Doha. "Precisamos evitar que os EUA virem um bode expiatório e levem sozinhos a culpa pelo fracasso das negociações", disse.