Título: Disputa dentro da base aumenta às vésperas da eleição na Câmara
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2007, Política, p. A8

A Câmara dos Deputados elege seu novo presidente amanhã, numa disputa entre os aliados do governo que se acirrou nas últimas 24 horas, ameaça a unidade da coalizão governista e deve ser decidida em segundo turno entre os deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Pela manhã, na reunião com os 11 partidos que integram o conselho político da coalizão, o presidente Lula considerou censurou a divisão: "Lamentavelmente, estamos numa disputa na Câmara divididos", disse, segundo integrantes do conselho.

A ameaça de "trincamento" da coalizão, especialmente entre os três partidos que constituiriam o núcleo da aliança - PT, PSB e PCdoB - desde ontem preocupa o Palácio do Planalto, que já trata dos desdobramentos da eleição. Além de Lula, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, também se manifestou. Disse que Lula tem a "absoluta convicção de que, com a unidade dos partidos em torno do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o espírito de colaboração demonstrado, eventualmente, alguma ferida que tenha ficado será superada após a eleição".

O próprio presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), também deu declarações dizendo que a disposição do partido é a de fortalecer a coalizão. "Se não foi possível estar junto agora na eleição da Câmara, será possível com certeza estar junto no governo", disse. "Eu não vejo problema nenhum para que isso aconteça. As eventuais feridas que sejam remanescentes da eleição da Câmara vão ser tratadas com todo o carinho e com todo o cuidado pelo PT".

Ontem, Aldo Rebelo recebeu o apoio formal do PDT (24 deputados). Na própria campanha de Chinaglia se admite que Aldo ganhou mais fôlego nos últimos dias, especialmente depois do debate promovido pela TV Câmara, no qual o petista não teria se saído tão bem. Ainda assim, a expectativa no partido é que falta pouco para que Chinaglia possa vencer a eleição no primeiro turno. Bastaria para isso um "empurrão" do governo, o que Lula, desde que voltou das férias, pediu que seus ministros evitassem de fazer "em respeito ao Aldo". A decisão do PDT indica que o presidente foi atendido, segundo avaliam os aliados de Aldo.

À tarde, a comissão política do PT teve uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Evitou tratar de ministérios, justamente para evitar que o acirramento entre os aliados se amplie, entre hoje e amanhã. O PT sentiu que o discurso de Aldo teve repercussão entre os eleitores. Na véspera, Aldo havia dito: "Não creio que se deva dar ainda mais força a um único partido. Não julgo prudente para o próprio PT a concentração de poderes".

Na realidade, na reunião da Executiva do PT, realizada na véspera, o assunto "ministério" foi comentado, com manifestações favoráveis a que o partido tentasse recuperar os ministérios da Saúde e de Cidades, hoje com o PMDB e o PP, respectivamente. Segundo Berzoini, a reunião dos petistas com Lula se limitou a dois assuntos: o PAC e a comunicação de governo no sentido de que ela deve se tornar mais eficaz "para que possamos de fato ter uma perfeita sintonia entre o que ocorre no governo federal e a informação que chega às bases do partido e na nossa base social", disse.

O vice-presidente Valter Pomar confirmou que a reunião se limitou a esses dois assuntos. Pomar, que é da ala à esquerda do partido, Disse que o PT considera o PAC positivo e atende as promessas da campanha de Lula. "Em 2003 começamos o governo com a reforma da Previdência, que é ajuste fiscal; em 2006 com um programa de desenvolvimento, o que é positivo", disse. O PT também fez críticas à política monetária, que considera em descompasso com os programas de investimentos previstos no PAC. Mas Berzoini ressalvou: "Evidentemente não temos um fetiche em relação a isso".