Título: Petistas reagem à política de alianças
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2012, Política, p. A6

Panfletos, e-mails, vídeos, conversas com integrantes do diretório nacional. Pré-candidatos a prefeito do PT atingidos pela decisão da legenda de ceder a cabeça de chapa em favor de aliados federais, em especial o PSB, reclamavam e se mobilizavam ontem, último dia do seminário de formação do partido para as eleições municipais, para barrar o que parece inevitável. Na reunião da cúpula petista que ocorre hoje, também na capital gaúcha, o diretório nacional deve aprovar a resolução que confere ao comando central do partido a prerrogativa de homologar as candidaturas do PT nos municípios com mais de 200 mil eleitores.

A medida é a forma encontrada pelo PT nacional de se antecipar e evitar intervenções em diretórios municipais que se recusam a servir de moeda de troca de uma negociação mais ampla, iniciada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. O confronto entre os objetivos nacionais e locais aflorou.

"O problema é nacionalizar a eleição municipal. Será que é preciso dar algo em troca? As pessoas que negociam de fora não têm compromisso com a cidade", criticava a pré-candidata de Duque de Caxias (RJ), Dalva Lazaroni, que produziu panfleto e distribuiu carta para sensibilizar correligionários presentes no seminário.

No panfleto, Dalva mostra pesquisa do Instituto Mapear em que o PT é apontado como o partido preferido na cidade por 51,4% dos entrevistados e segundo a qual 24,3% votariam ou tenderiam a votar em um candidato do PT.

"Estamos tentando mobilizar integrantes do diretório nacional, por e-mail, vídeo, enviando cartinha para os convencionais. Outras pessoas já compraram nossa briga. Espero que o senso de justiça prevaleça e a resolução não seja aprovada", dizia, confiante, Dalva Lazaroni, afirmando que Duque de Caxias não é uma cidade qualquer, por ser o 15º PIB municipal do país e segunda maior arrecadação do Estado do Rio, além de ter mais de 600 mil eleitores.

A petista lembra que Caxias tem uma cadeia completa de produção da Petrobras, liderada pela Reduque, a refinaria da estatal, e diz achar estranho que o maior interesse nas negociações se dê em torno de cidades em que o petróleo é base da economia, como Mossoró (RN).

O apoio do PT em Duque de Caxias e Mossoró, bem como em outros municípios do país, foi posto há dois meses por Eduardo Campos como condição para que o PSB participe da chapa do ex-ministro Fernando Haddad em São Paulo.

Ex-presidente do diretório municipal de Mossoró e candidato a vice-prefeito em 2008, Tércio Pereira estava mais desanimado com a possibilidade de não aprovação da resolução hoje pelo diretório nacional. Ele defende a candidatura do reitor da Universidade Federal do Semiárido (Ufersa), Josivan Barbosa, contra a coligação com a deputada estadual Larissa Rosado (PSB).

"É muito traumático. Se sair a resolução e o comando nacional não homologar a candidatura, o partido vai ficar esbagaçado. Será a maior decepção na minha vida política. Fui fundador do PT em 1980 e nunca vi isso", disse.

Pereira lembra que o partido tem passado por muitas transformações e esta é mais uma delas Para ele, não é apenas São Paulo e Haddad, uma aposta de Lula, que estão em jogo. Ele conta que na visita de convencimento que fez ao Rio Grande do Norte, o secretário nacional de organização da legenda, Paulo Frateschi, argumentou que o PT já contava com o apoio do PSB em mais de 30 cidades, entre as 118 com mais de 150 mil eleitores, e só tinha dado contrapartida aos pessebistas em apenas três.

"Mas passamos por todo o processo e calendário estabelecido pelo partido. A tese de candidatura própria venceu no encontro de tática. Pensávamos que já estava resolvido. E veio essa exigência do PSB. É uma chantagem boba e acho que a direção nacional vai ceder a ela", afirmou Pereira, que foi vice na chapa encabeçada por Larissa, em 2008.

"A situação agora mudou. Temos candidato forte, que é o reitor. A população quer mudança e o PT tem como capitalizar. Há sinais claro de cansaço na oligarquia que domina a cidade há mais de 60 anos", acrescenta.

Há décadas, Mossoró é um reduto da família Rosado. Larissa é filha da deputada federal Sandra Rosado, líder do PSB na Câmara. Elas fazem oposição a outra ala da mesma família, que tem hoje como expoente a governadora Rosalba Ciarlini (DEM), que foi prefeita da cidade por três mandatos.

"A família consegue ser três coisas ao mesmo tempo: situação, oposição e alternativa", ironiza o petista. Outro fator simbólico que move a disputa entre PT e o PSB em Mossoró é a possibilidade de vencer o único município entre os 118 maiores ainda governado pelo DEM.

Se por um lado, o PT nacional tem feito de tudo para atender o PSB, seu outro aliado, o PCdoB, teve seu pedido negado. Ontem, o presidente petista, Rui Falcão, afirmou na capital gaúcha, ter sido procurado pela manhã pelo presidente nacional da sigla comunista, Renato Rabello, para que o partido desista de concorrer em Porto Alegre, onde sua deputada federal, Manuela D"Ávila, figura em segundo lugar nas pesquisas. O pré-candidato do PT é o deputado estadual Adão Villaverde. Falcão consultou o presidente do diretório estadual, Raul Pont, que recusou abrir mão de nome próprio, e voltou a falar com Rabello, lamentando não poder ajudar. "Se grande parte do PT de Porto Alegre definiu pela candidatura própria é porque tem expectativa de eleger o candidato", disse Rui Falcão.