Título: Petrobras analisa compra de uma refinaria no Japão
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Empresas, p. B1

Depois de uma ofensiva sem sucesso para adquirir o controle da refinaria de Cartagena, na Colômbia, a Petrobras agora analisa a compra de uma refinaria no Japão. Essa operação, se bem sucedida, permitirá que a Petrobras entre diretamente no voraz mercado asiático. Ela já exporta petróleo pesado para China e Japão. Com a unidade, a Petrobras quer agregar valor a seu petróleo e vender combustíveis, já se apropriando das margens de refino num dos mercados mais ricos e que desponta entre os maiores consumidores do mundo.

João Figueira, gerente geral da área internacional para Américas, África e Eurásia, disse que não pode revelar detalhes sobre o porte e nem a localização da refinaria que está sendo analisada e esclareceu apenas que a fase de avaliação deve ser concluída até o fim do ano, o que pode significar a compra ou não. Adianta apenas que se trata "de um mercado fantástico".

A aposta da Petrobras em refinar no exterior teve impulso com a aquisição recente de uma participação de 50% na refinaria de Pasadena, no Texas, por US$ 360 milhões. Agora, ela e sua sócia Astra Oil (controlada pelo grupo belga Compagnie Nationale Portefeuille SA), estudam investimentos para duplicar, para 200 mil barris por dia, a capacidade de produção de derivados e investir na conversão da planta para que ela possa processar óleo pesado.

Em agosto, a Petrobras Colômbia perdeu uma concorrência da Ecopetrol para a suíça Glencore. No primeiro envelope, a estatal a ofereceu US$ 591 milhões, valor 96,34% maior que os US$ 301 milhões propostos pela Glencore.

Como os dois valores ficaram abaixo do preço mínimo estabelecido pela Ecopetrol, que ainda era desconhecido quando os envelopes foram abertos, as duas proponentes deram novos lances. Mas a Glencore dobrou a aposta, oferecendo US$ 630 milhões, enquanto a oferta da Petrobras subiu só para US$ 595 milhões. Só então a Ecopetrol informou seu valor mínimo, de US$ 625 milhões.

"A nossa era uma proposta competitiva, traduzia a nossa expectativa, mas não levamos. Faz parte do negócio e oportunidades estão sempre disponíveis no mercado. Ao construir sua carteira de negócios no exterior, a Petrobras tem sido muito bem sucedida", afirmou Figueira.

A projeção de aumento da produção no exterior comprova isso. A Petrobras prevê elevar sua produção diária internacional de 259 mil barris de óleo equivalentes (medida que inclui óleo e gás) em 2005, para 568 mil barris em 2011. Esse volume pode crescer se a companhia tiver sucesso na exploração de dois blocos considerados promissores, Tayrona e Tierra Negra, na costa da Colômbia. A área internacional vai abocanhar US$ 12,1 bilhões do orçamento de investimentos da Petrobras no período 2007- 2011, dos quais 70% serão aplicados na exploração e produção de petróleo e gás.

A maior aposta da área internacional da Petrobras está nos Estados Unidos, com investimentos de US$ 2,8 bilhões, incluindo a área de refino. Na parte americana do Golfo do México, já participa, sozinha ou com sócios, de 287 blocos, sendo operadora de 145 deles. E acaba de apresentar as maiores ofertas para 34 blocos na região, em leilão promovido pelo Minerals Management Service (MMS), órgão que regula o setor nos Estados Unidos. Se as propostas forem aceitas pelo MMS, o que será conhecido esta semana, o portfólio vai aumentar para 321 blocos.

Recentemente, um consórcio formado pela Chevron, Devon e Statoil descobriu petróleo em águas profundas do Golfo do México, depois de perfurarem uma área conhecida com Jack. "O resultado na área foi altamente animador", disse Figueira. Explicou que a nova fronteira também integra a parte mexicana do Golfo, praticamente inexplorada em áreas profundas e controladas pela estatal Petróleos de México (Pemex).

Outra descoberta relevante na região foi feita pela BP, em um poço chamado "Kaskida". Essas descobertas vêm sendo tratadas como uma possível nova fronteira nos Estados Unidos desde as grandes descobertas feitas no Alasca, e podem reduzir em parte a grande dependência daquele país em relação ao petróleo estrangeiro. A área fica geologicamente próxima a "Cascade", "Chinook" e "Saint Malo", onde a Petrobras e sócios descobriram reservas com potencial de 1 bilhão de barris em águas ultra profundas. "Esse conjunto de descobertas mostra que nossos ativos são relevantes", ressalta o executivo da Petrobras.

A companhia já produz cerca de 8 mil barris de petróleo por dia nos Estados Unidos e no final desse ano começará a produzir no campo de Cottonwood (na qual tem 80% do controle, tendo como sócia a americana Mariner) em volumes ainda não revelados. Previsões anteriores da própria companhia sugeriam que somente com esse campo sua produção ali pode chegar a 18 mil barris ao dia. Mas a Petrobras também procura gás natural em águas rasas do Golfo Americano.