Título: CPI preserva governadores e parlamentares de quebra de sigilo
Autor: Magro, Maíra; Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2012, Política, p. A10

Uma articulação da base governista no Congresso, com o apoio de integrantes do PSDB, poupou governadores, parlamentares e a matriz da construtora Delta das convocações e quebras de sigilo feitas ontem pela CPI criada para investigar as relações de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresas.

O PT mudou de tática mas ainda não desistiu de "pegar" o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Prova disso é que entre as quebras de sigilo e convocações de ontem encontram-se quase uma dezena de autoridades, empresários e pessoas ligadas ao governador. Entre eles Jayme Rincon, tesoureiro de campanha e espécie de braço direito.

Há um acordo tácito entre os principais partidos para não convocar agora os "big shots" pilhados em conversas telefônicas com o contraventor Carlos Cachoeira, entre os quais os governadores de Estado e altos dirigentes da Delta Construção.

No caso de Perillo, o PT primeiro quer reunir evidências mais consistentes ou até provas de envolvimento do governador na organização criminosa de Cachoeira. Enquanto isso, ganha tempo para que Agnelo Queiróz, governador petista do DF, apresente provas de que não tem relações com o esquema do contraventor.

O PT queria usar a CPI do Cachoeira para fazer um ajuste com a imprensa, "pegar" o tucano Perillo e cassar o mandato do senador Demóstenes Torres, ex-DEM, um de seus mais implacáveis críticos. Mas houve efeitos colaterais, como o envolvimento da Delta Construção, responsável por um terço das obras do PAC, e do governador do Rio, Sérgio Cabral, aliado do governo e do ex-presidente Lula, além do Agnelo. Dilma também desautorizou os ataques à imprensa.

Apesar disso, o PT considera que a CPI já cumpriu parte de seus objetivos: transformou Marconi Perillo num "pato manco da política", o senador Demóstenes deve ter cassado o mandato e o partido ainda poderá faturar politicamente a prisão do contraventor Carlos Cachoeira. No PSDB, o senador Aécio Neves assumiu a articulação política da defesa de Perillo.

Na sessão de ontem, a CPI aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta no Centro-Oeste (incluindo operações em Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Tocantins) e de seu ex-diretor na região, Cláudio Abreu, preso nos desdobramentos da operação Monte Carlo da Polícia Federal, que desvendou o esquema de Cachoeira. Também foi aprovada a quebra de sigilo de pessoas sem foro privilegiado e ligadas a Cachoeira.

A comissão deixou ainda de votar pedidos para que o ex-proprietário da Delta Fernando Cavendish fosse convocado a depor. A construtora é acusada de depositar dinheiro na conta de empresas laranjas do grupo de Cachoeira e de beneficiar-se de infiltrações da organização criminosa no poder público.

A iniciativa de limitar as investigações da Delta ao Centro-Oeste partiu da base governista. "Quem muito abraça, pouco aperta", disse o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), referindo-se à necessidade de um foco. "Não podemos partir para uma terra arrasada onde se quebram todos os sigilos sem se ter um fator inicial", concordou o deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF). O acordo PT-PMDB para deixar os governadores de fora da primeira leva de convocações contou com o apoio de integrantes da oposição. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) alegou que seria preciso evitar o custo político, mencionando que, em época de Copa do Mundo, seria ruim para o Brasil chamar, por exemplo, o governador do Rio a depor. "Não é um jogo da verdade no qual se vai virando a garrafa e cada um tem que responder", disse Lima. Nem todos os tucanos se posicionaram dessa maneira. Após a sessão, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), se disse surpreso: "Não entendi porque eles foram contra." (Colaboraram Caio Junqueira e Bruno Peres)