Título: Pelo voto religioso, Dilma promete carta
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2010, Política, p. 4
Sob pressão, a candidata à Presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff, comprometeu-se a elaborar uma carta assumindo promessas polêmicas, como não descriminalizar o aborto e vetar, se eleita, o casamento entre homossexuais.
Lideranças religiosas e aliados políticos cobraram ontem, durante encontro em Brasília, uma posição mais clara da candidata sobre temas tabus.
Entre eles, liberdade religiosa, adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo e homossexualidade.
O apoio depende da redação desse manifesto e ainda de ¿comprometimento¿ político. Os evangélicos querem marcar território, aumentar a representação no Legislativo e ocupar outros cargos públicos. Só assim estariam dispostos a colocar a tropa de choque nas ruas ¿ ou melhor ¿ nos templos.
¿Eles perceberam o tamanho da nossa força. Ficaram surpresos com os votos da Marina porque não sabiam como os evangélicos são organizados¿, disse um pastor, após a reunião com a candidata em Brasília. Cruzamento de pesquisa Datafolha com Censo/IBGE 2000 mostra que 42,2 milhões de pessoas declaram-se evangélicas, ou 22% da população brasileira.
A reunião, marcada com urgência pela coordenação da campanha petista, teve início no fim da manhã. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou rapidamente pelo encontro. Lembrou a boa relação com as igrejas e a vitória dos evangélicos na alteração do Código Civil, ainda no primeiro mandato petista. Pela proposta, as igrejas se tornariam associações civis. Lula cedeu à pressão e manteve a liberdade estatutária das instituições religiosas.
Ao lado de Lula, Dilma citou ¿Deus¿ e reforçou o discurso, repetido exaustivamente nas últimas semanas, de que é contrária ao aborto. Só que desta vez, segundo os pastores, abandonou a tese de que o assunto é questão de saúde pública. ¿Ela não pode ter duas opiniões. As pessoas não entendem esse discurso de saúde pública. Tem que ser contra e ponto¿, afirmou outro pastor. A candidata ouviu com atenção o cenário traçado pelos líderes.
¿Falar mal é fácil. Para falar bem você precisa de argumentação. O problema é que estamos perdendo a guerra por falta de contundência¿, disse o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cruzada Parlamentares estão organizando uma cruzada nas igrejas.
Preparam reuniões regionais para divulgar o manifesto petista e ainda cobram dos pastores a disseminação das ideias da candidata.
¿A tarefa não é fácil¿, assume o deputado Gilmar Machado (PT-MG).O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) defendeu o combate aos ¿boatos que distorcem¿ a opinião da candidata. ¿Ela não vai encaminhar nem sancionar qualquer coisa que ofenda os direitos religiosos, que descriminalize o aborto ou que promova o casamento homossexual¿, repetiu o senador.
Foram convidados 51 representantes de correntes evangélicas.
Há uma divisão entre protestantes, igrejas pentecostais e neopentecostais.
A coordenação de campanha da petista aproveitou a presença dos religiosos para gravar depoimentos que podem ser usados no programa eleitoral.
Seis pastores declararam apoio a Dilma e ainda defenderam as ideias da candidata. Hoje, a ex-ministra tenta aproveitar a agenda no Pará para articular reunião com evangélicos do estado.