Título: Votorantim decide retomar fábrica de Ribeirão Grande
Autor: Ribeiro, Ivo e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Empresas, p. B8

O processo de reestruturação financeira do grupo C P Cimento, da família Koranyi Ribeiro, tomou um novo rumo na semana passada. A Votorantim Cimentos (VC), uma de suas acionistas, entrou firme nas negociações para barrar a operação acertada com o grupo grego Titan. O acordo prevê a venda de 27% do capital da Cia. de Cimento Ribeirão Grande (CCRG), uma das controladas da CP, aos gregos por US$ 80 milhões.

A Votorantim exerceu sua opção de retomada do controle da fábrica, que já lhe pertenceu até janeiro de 2000, dentro de certas condições. Se não exercesse agora, ainda tinha o poder de vetar o negócio com a Titan na reunião do conselho de acionistas da CP marcada para o fim de setembro.

Segundo apurou o Valor, a proposta em negociação com a VC envolve uma soma superior a R$ 500 milhões pela retomada do controle da CCRG. Primeiro, boa parte desse valor - bem mais de R$ 300 milhões, incluindo correções financeiras - será usada para cancelar a dívida que a Santo Estevão, holding da família Koranyi Ribeiro, tem com a Votorantim. Isso se refere à venda de suas ações - 71% do capital votante - em 2000, ainda não quitada. Essa participação ficou sob o guarda-chuva da CP.

Numa segunda etapa, a Votorantim pagará um pouco mais de US$ 80 milhões pela compra de outro bloco de ações com direito a voto que pertenceu ao grupo Bradesco, também vendido à Santo Estevão. Esse valor será quitado parceladamente, no prazo de três anos, segundo informou uma fonte da Votorantim.

Com isso, a empresa de cimento da família Ermírio de Moraes, líder no mercado nacional, vai ficar com cerca de 90% do capital votante da CCRG. Segundo informações, a CP detém 93,2% do capital com direito a voto da empresa e 88,6% do seu capital total.

Com a operação, a Votorantim sai do capital da CP, no qual é dona de 13,41% de ações ON (7,76% do capital total). Essas ações passam às mãos da Santo Estevão.

Segundo a VC, a decisão de retomar a fábrica foi para defender seu crédito com a Santo Estevão, uma vez que as operações em curso de reestruturação da CP não contemplavam a quitação da dívida da holding da família com a Votorantim. De acordo com uma fonte da CP, essa dívida faz parte de um compromisso de longo prazo para quitação - em torno de 12 anos. A direção da empresa não quis se manifestar sobre a operação de retomada da CCRG pela VC, alegando sigilo das negociações.

Além da Ribeirão Grande, a CP controla a Cimento Tupi: 74,9% do capital. Outros 20% são da Lafarge, que tem uma ação de arbitragem em Zurique para obrigar a CP a adquirir suas ações. Os 5% restantes são da Latcem, holding sediada em Luxemburgo que também é acionista da CP. Com as duas empresas, a CP opera quatro fábricas no Rio, Minas e São Paulo, com capacidade de 3,7 milhões de toneladas.

A situação financeira da CP é difícil: sua dívida financeira supera R$ 450 milhões, a maior parte no curto prazo. Os principais credores são Itaú, Unibanco e BES. Em 2005, o Goldman Sachs foi contratado para buscar uma solução, com venda total ou parcial dos ativos.

Avaliações de fontes próximas à CP é que a operação com a Votorantim pode demorar, pois depende de minúcias jurídicas e aprovação do conselheiro. "Por nós, isso sairia rápido", diz fonte da VC.