Título: Petrobras perde mais com refino e já zera ganhos em quatro anos
Autor: Torres, Fernando; Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2012, Empresas, p. B1

A situação da área de refino de petróleo da Petrobras está tão crítica que os investidores comemoraram que o prejuízo da divisão foi de "apenas" R$ 4,59 bilhões no primeiro trimestre de 2012. Alguns analistas projetavam perda ainda maior nessa área.

Descontada a questão da administração de expectativas - que aparentemente torna positivo um resultado que é claramente ruim para a companhia -, o prejuízo multibilionário na área de abastecimento é resultado direto da política de preços da estatal, que demora a repassar a alta dos preços internacionais do petróleo e seus derivados para o consumidor final no Brasil.

Entre o início de 2011 e março deste ano, a área de Abastecimento da Petrobras acumulou prejuízo líquido de R$ 14,59 bilhões.

A administração da companhia e membros do governo costumam argumentar que a política de preços da Petrobras tende ao equilíbrio no longo prazo.

Questionado ontem novamente sobre a política preços, o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Almir Barbassa, negou que haja uma "política de subsídio" de importações e repetiu o argumento de sempre, de que a empresa evita passar a volatilidade do preço internacional para o consumidor final e que os efeitos se compensam no tempo.

Em resumo, assim como a alta do Brent não está sendo repassada aos clientes neste momento, quando o petróleo caiu em 2009 a Petrobras também não reduziu os preços para os consumidores e teria lucrado bastante com isso. De fato, o lucro dessa divisão em 2009 foi grande, de R$ 13,5 bilhões, o maior desde 2003.

O que a empresa e o governo afirmam é que, no fim das contas, o ganho num período anula a perda em outro.

Divisão está no vermelho se for considerado o resultado acumulado desde 2011, 2010 e 2008

O Valor levantou os resultados da área de Abastecimento da Petrobras desde 2003, quando ela passou a abrir esses dados em suas demonstrações de resultados disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

E fez duas comparações, tanto do início para o fim como no sentido inverso. Na primeira comparação, no longuíssimo prazo, olhando o período desde janeiro de 2003 até março deste ano, a área de abastecimento da Petrobras ainda está no azul, com um lucro acumulado de R$ 24,44 bilhões, mas graças principalmente aos resultados obtidos até 2006.

Apesar de o número impressionar, a margem líquida do período acumulado é inferior a 2% e se revela em queda ao longo do tempo. Ela se mostrava praticamente estável em 5% até 2006, entrando depois num mergulho a partir de 2007 (ver gráfico).

Olhando os dados pelo retrovisor, o cenário é mais problemático. Tendo março de 2012 como base fixa e incluindo os anos anteriores, a divisão de Abastecimento já está no vermelho se for considerado o resultado acumulado desde 2011, desde 2010 e desde 2008 - ou seja, no período em um ano e um trimestre, dois anos e um trimestre e quatro anos e um trimestre.

Tendo em conta que a perda no segundo trimestre de 2012 deve ser maior do que a de R$ 4,59 bilhões registrada nos primeiros três meses do ano, por causa do aumento da venda de diesel (como a própria empresa sinalizou), é possível estimar que a partir de junho a área de Abastecimento passará a acumular prejuízo também na comparação desde 2009 e desde 2007.

Dito de outra forma, as perdas registradas em 2008, 2011 e metade de 2012, com grandes chances, vão superar os ganhos registrados em 2007, 2009 e 2010.

Isso significa que, no gráfico desta página, mais duas barras que apontam hoje para cima passarão a mostrar prejuízo.

Assim, qualquer ganho acumulado com refino que sobrar em quase dez anos, além de representar uma margem cada vez mais perto de zero, terá vindo dos resultados obtidos de 2003 a 2006.

Um resultado negativo na área de Abastecimento em qualquer comparação de longo prazo nos últimos cinco anos contraria o argumento de que os efeitos se compensam ao longo do tempo (a não ser que se espere zerar o ganho de dez anos).

Imagina-se, entretanto, que a conta não precise ficar negativa para que se reconheça que há um desequilíbrio na política de preços. Afinal, não se espera que um segmento com ativos de R$ 165 bilhões ao fim de março dê retorno zero aos acionistas da companhia - o que inclui, nesse caso, tanto o governo como os minoritários.