Título: Alckmin assimila tom da carta de FHC e elogia seu governo
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Política, p. A8

A estratégia de endurecer os ataques ao governo para tentar levar a eleição presidencial para o segundo turno foi reforçada ontem pelo ex-governador Geraldo Alckmin, candidato da coligação PSDB-PFL, em comício realizado em Brasília. Disse que o atual governo "apequenou o Brasil", classificou de 'pasmaceira' o baixo crescimento econômico e de "vergonha" a preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por viajar em vez de governar.

Alckmin parecia afinado com o tom da carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que cobrou uma campanha de mais indignação ética do PSDB, "Quero ser instrumento de vocês, do povo brasileiro, para acabar com cuecão, mensalão, sanguessugas e vampiros....Vamos fazer os corruptos correrem daqui, moralizando a administração pública", afirmou.

Falando para um público estimado em três mil pessoas, Alckmin disse que seu governo estenderia "tapete vermelho" para pessoas como o caseiro Francenildo dos Santos, responsável pela queda do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) por ter revelado sua presença na mansão de Brasília usada para lobies. Após as declarações, o caseiro teve seu sigilo bancário quebrado. "O meu governo não vai ser violento com Francenildo, o caseiro pobre do Nordeste que vive aqui em Brasília. Vamos pôr tapete vermelho para ele, que é o brasileiro honesto, de bem", disse.

Para criticar o baixo índice de crescimento do país na gestão Lula, Alckmin lembrou o ex-presidente Juscelino Kubitschek - cujo slogan era "50 anos em 5" -, responsável pela transferência da capital federal para o Centro-Oeste. Disse que, se eleito, irá implantar um "grande plano de obras" para fazer o país retomar o crescimento.

Prometeu resgatar projetos do governo FHC, como o Bolsa-Escola e o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). "Hoje, esses programas têm nome de Bolsa-Família. Queremos emprego e salário. Nem tapar buraco o governo consegue tapar."

Ao lado do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), candidato favorito ao Senado pelo Distrito Federal, e da governadora licenciada Maria de Lourdes Abadia (PSDB), segunda colocada na disputa pelo Palácio do Buriti, o tucano participou de uma carreata que reuniu aproximadamente mil carros. No comício, repetiu sua avaliação segundo a qual a campanha está começando agora e há tempo para uma virada. "Cuidado com as pesquisas", disse.

Mais tarde, em entrevista, Alckmin comentou a crítica feita pelo programa eleitoral de Lula no horário gratuito de televisão ao fato de o tucano ter gravado sua propaganda em um trecho danificado da BR 316, mostrado pelo Jornal Nacional. "Achei bom (o fato de o programa do petista ter reagido). Campanha é isso: debate. Antes estava havendo um monólogo", disse. No comício, Alckmin afirmou que "nem tapar buraco esse governo consegue".

O tucano comentou, ainda, a carta de FHC, publicada no site do PSDB na internet, na qual há ataques ao governo Lula e elogios a Alckmin, mas também há críticas à política de segurança do governo paulista e autocríticas partidárias. "A carta teve a idéia de dar um chacoalhão. Primeiro, falou ao povo brasileiro, que não é possível se conformar com o governo atual. Também quis dar um chacoalhão tucano", disse.

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo disse ontem que escrever cartas é "coisa de velho". "A carta é muito feliz quando fala da segurança pública de São Paulo, mas acho que carta é uma coisa que já não se usa atualmente no país. As missivas foram antes da internet. Mas se tem gente que gosta de escrever cartas...", disse o governador.

Lembo disse que não comentaria o conteúdo da carta, porque "o restante é assunto partidário e eu não sou do partido do ex-presidente". Ao final, voltou a comentar a carta. "As pessoas na minha idade, na idade dele (FHC) ainda escrevem cartas. Quando eu deixar o governo, no dia 1º de janeiro, escrevo uma carta também, já que sou velho."