Título: Mandelson apóia Índia e eleva pressão sobre os EUA
Autor: Landim, Raquel e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Brasil, p. A3

A União Européia se solidarizou com a Índia e outros países em desenvolvimento, que pedem maiores barreiras contra a entrada de produtos agrícolas em seus mercados, e aumentou a pressão sobre os Estados Unidos. A posição européia desagrada também outros grandes exportadores agrícolas como Argentina e Brasil.

"Não se pode culpar a Índia e outros países em desenvolvimento por não desejarem negociar produtos especiais sem saber se entrarão ou não em seus mercados produtos altamente subsidiados", disse o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, ao Valor. "Eles têm direito a uma explicação sobre o tema (subsídios), antes de clarificar suas posições sobre produtos sensíveis."

Essa é uma questão central no atual impasse da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC). Liderado pela Índia, um grupo de países pobres solicita uma lista de produtos sensíveis e salvaguardas especiais na área agrícola. Eles temem que sua agricultura de subsistência seja devastada pelos produtos agrícolas americanos subsidiados. Já os EUA se recusam a melhorar a oferta de redução de subsídios, argumentando que não existe em contrapartida uma abertura efetiva nos países em desenvolvimento.

Para Mandelson, os países não podem voltar atrás no compromisso, assumido na reunião de Hong Kong em dezembro de 2005, de aceitar produtos sensíveis e salvaguardas especiais para os produtos agrícolas das nações pobres. Ele avalia que as condições para que isso ocorra ainda serão esclarecidas, mas que se trata de "um próximo estágio da negociação".

Mandelson se reuniu ontem no Rio durante uma hora com os países do G-20. No encontro, o comissário garantiu que a promessa da UE de eliminar os subsídios à exportação até 2013 permanece sobre a mesa até que um acordo seja alcançado. "O objetivo é manter a confiança", disse. Ele também ressaltou que, dependendo das concessões dos outros parceiros, a UE pode se aproximar do pedido do G-20 de fazer um corte médio de 54% em suas tarifas agrícolas.

Durante o fim de semana, Mandelson se reuniu bilateralmente com vários países, incluindo Argentina e Brasil. As negociações para um acordo bilateral entre Mercosul e UE foram discutidas, mas marginalmente. "Essa é uma questão viva. Os dois lados querem completar esse acordo, mas é difícil enquanto não concluirmos as negociações da OMC". (RL e FG)