Título: PT e PSDB trocam acusações por caos no metrô
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2012, Política, p. A11

Passageiros protestam contra a greve do metrô na zona leste de São Paulo: PMs usam bala de borracha e bomba de efeito moral para conter usuários rebelados

Lucia Maria de Freitas, de 52 anos, costuma gastar 50 minutos no metrô para ir de sua casa, na zona leste da capital paulista, para o trabalho, na zona oeste. Ontem, com a greve de metrô e de duas linhas da CPTM em São Paulo, levou mais de cinco horas para percorrer dois terços do mesmo trajeto. Enquanto aguardava para embarcar no terceiro ônibus, a encarregada de limpeza não sabia que horas chegaria ao trabalho. "Não sei quem cuida do metrô, mas sei que não está cuidando bem. É só ver essa greve".

Na mesma fila, no centro de São Paulo, Claudilene Rodrigues Matias, de 25 anos, também não sabia dizer qual governo administra o metrô. O trajeto da vendedora, que ontem durou mais de três horas, é feito em um terço do tempo no metrô.

Vanessa Barros, de 31 anos, corretora de seguros, comentou que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o responsável pelos transportes sobre trilho, mas minimizou a responsabilidade do governo sobre a greve. "No ônibus ouvi todo mundo "meter o pau" no Alckmin, no PSDB, que estão há não sei quantos anos no governo e não fizeram nada. Mas que não tem o que fazer. Sempre vai ter greve". Já Teresa Lima, de 39 anos, agente de atendimento, disse que o protesto pode prejudicar o Alckmin e José Serra, pré-candidato do PSDB à prefeitura paulistana. "Eles são do mesmo partido", afirmou.

A greve de quatro das cinco linhas do metrô e de duas linhas da CPTM, que afetou mais de 4,8 milhões de passageiros, acabou ontem depois de 18 horas de protesto sem ganhos significativos aos sindicalistas em relação ao que o Metrô havia oferecido um dia antes. A oposição ao governo do PSDB, no entanto, vê na greve a oportunidade para colar os problemas à imagem de Alckmin e de José Serra, na tentativa de desgastar a imagem dos tucanos não só na eleição de 2012, mas também na de 2014. Eleitores como Lucia e Claudilene, que não sabem quem gere o metrô e a CPTM, estão na mira da campanha eleitoral do PT, que irá reforçar o mote do "apagão nos transportes" ao PSDB já na pré-campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

O presidente do diretório municipal do PT e coordenador da pré-campanha de Haddad, vereador Antonio Donato, disse que o partido vai reforçar as críticas contra o "sucateamento" do transporte público na capital, na quinta gestão consecutiva do PSDB no Estado.

O PT escolheu dois focos para atacar a política de mobilidade urbana do PSDB em São Paulo: a evolução nos investimentos do governo estadual em manutenção e sinalização do metrô e da CPTM e a falta de continuidade na construção dos corredores de ônibus, marca da gestão da ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (PT).

Segundo o deputado federal Carlos Zarattini, um dos responsáveis pelo programa de Transportes de Haddad, o PT vai falar que a "falta de planejamento levou ao apagão nos transportes". "Serra fez muita propaganda dos investimentos no metrô, mas houve pouco resultado efetivo. Ele, quando governou o Estado, priorizou a compra de trens, que aparecem eleitoralmente, mas deixou de cuidar da manutenção e sinalização", disse. "Ao mesmo tempo, o [prefeito Gilberto] Kassab abandonou os corredores de ônibus". Na análise de Zarattini, sem os corredores, a viagem de ônibus torna-se mais lenta e, por isso, os passageiros migraram ainda mais para o metrô, sobrecarregando o sistema.

Ontem, o PT se municiou de imagens da greve, com passageiros revoltados com a falta de transporte entraram e o conflito com a Polícia Militar. A PM usou bala de borracha, bomba de efeito moral e duas pessoas foram detidas.

Na defesa de sua gestão, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), associou a greve de ontem à proximidade das eleições municipais. Segundo o governador, a paralisação é "totalmente absurda" e é comandada por um "grupelho irresponsável".

Em entrevista ao jornal "SPTV", da Rede Globo, Alckmin disse que a greve não tinha "o menor sentido" e que era uma "crueldade" dos grevistas com a população. "No ano passado não teve nenhuma greve. Este ano tem eleição, tem greve. Será que é só coincidência?"

No ano passado, Alckmin enfrentou dois dias de greve da CPTM. A última grande paralisação do metrô ocorreu em 2007, ano não eleitoral, no primeiro ano do mandato de José Serra como o governador. Depois do protesto, que durou dois dias, o governo chegou a anunciar a demissão de 61 funcionários do metrô. Naquele mesmo ano, dias depois de Serra assumir o governo, o metrô registrou seu pior acidente. Sete pessoas morreram com o desabamento nas obras da estação de metrô Pinheiros, na zona oeste.

O Sindicato dos Metroviários, responsável pela paralisação de quatro linhas do metrô, é ligado à central sindical Conlutas e vinculado ao PST e PSOL. Na gestão da diretoria anterior, o sindicato esteve ligado ao PCdoB e à central sindical CTB, vinculada ao partido. A linha amarela, operada pela iniciativa privada, é ligada a outro sindicato e não aderiu à greve.

Os rumores de greve aumentaram na semana passada, quando dois vagões do metrô colidiram na linha 3 e deixaram pelo menos 49 pessoas feridas. Sindicalistas queixavam-se de más condições de trabalho e da falta de investimento na manutenção do metrô.

Neste ano, o sindicato já havia ameaçado greve, em fevereiro, durante a negociação sobre o valor da Participação nos Lucros e Resultados, mas entrou em acordo com o governo. Em 2011, o metrô ameaçou aderir à greve da CPTM, mas também houve acordo.