Título: Popularidade de Lula deve seguir alta
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2007, Política, p. A9

A economia brasileira dificilmente avançará 4,5% neste ano e 5% a partir de 2008, como prevê o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), mas isso não deve abalar a avaliação favorável do governo Lula junto aos eleitores. Com um cenário benigno para a evolução do emprego, da renda e da inflação, a expectativa é de que o consumo das famílias cresça a um ritmo significativo nos próximos dois anos, diz o economista-chefe do Credit Suisse, Nílson Teixeira.

Para ele e para outros analistas, isso tende a se traduzir na manutenção da popularidade da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em níveis elevados, ainda que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) fique pouco acima de 3%. Em dezembro, pesquisa CNI/Ibope mostrou que 57% dos eleitores consideravam o governo Lula ótimo ou bom, acima dos 49% registrados em setembro.

Teixeira prevê um avanço da economia de 3% neste ano e de 3,3% em 2008, bem abaixo dos números que constam do PAC. Para o Credit Suisse, o problema é que o plano não trata de questões estruturais que seriam "os principais responsáveis pelo baixo crescimento potencial da economia", como a Previdência. Medidas como essa seriam importantes para indicar uma trajetória de redução dos gastos não financeiros do governo, o que abriria espaço para redução da carga tributária.

Por tudo isso, Teixeira vê uma aceleração bastante gradual do ritmo de expansão da economia nos próximos anos. Mesmo assim, isso está longe de ser incompatível com uma popularidade expressiva da administração Lula. "É provável que a avaliação do eleitorado sobre as condições da economia seja mais favorável do que sugere o ritmo de crescimento moderado", diz Teixeira. Para ele, isso se deve muito à composição do avanço do PIB, baseada mais no mercado interno, principalmente no consumo das famílias.

O aumento da massa real de salários deve ser um dos principais motores do consumo neste ano, assim como já ocorreu em 2006. O Credit Suisse espera um avanço de 6% em 2007, apostando em crescimento de 3,5% do salário médio real (descontada a inflação) e de 2,5% da ocupação. Em 2006, a massa cresceu 6,6%.

A perspectiva de inflação sob controle também tende a ajudar a manter a popularidade do governo nas alturas, por implicar a manutenção do poder de compra da moeda. O Credit Suisse tem uma das previsões mais otimistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estimando um indicador de apenas 3,2% neste ano, bem abaixo do centro da meta de inflação, de 4,5%. Em relatório, o banco avalia que "o resultado da eleição de 2006 e as pesquisas de opinião sugerem que os eleitores preferem a manutenção da estabilidade e da inflação baixa a uma aceleração do crescimento do PIB que ameace a estabilidade". Teixeira aposta que o consumo das famílias pode crescer 4,8% neste ano, uma aceleração forte em relação os 3,7% estimados para 2006. As perspectivas para o crédito também são favoráveis, diz Teixeira.

O estrategista-sênior para a América Latina do WestLB, Roberto Padovani, também acredita que a avaliação da administração Lula deve seguir favorável. "Quando se analisa a popularidade do governo, nota-se que ela é muito explicada pelas condições de renda."

Padovani acredita numa expansão da massa real de salários de 5,1% neste ano, menos que os 6% previstos pelo Credit Suisse, mas ainda assim um número robusto. Ele é um pouco mais otimista quanto ao avanço do PIB em 2007. Com base num cenário formado por câmbio estável e juros em queda, ele aposta que a economia vai crescer 3,4% neste ano. As estimativas do mercado são de que o PIB tenha avançado algo como 2,8% em 2006. Para Padovani, o PAC não deve elevar o crescimento potencial do país porque não ataca questões fundamentais como o tamanho da carga tributária - o que exigiria controle dos gastos públicos -, as incertezas regulatórias e a baixa qualidade da educação.

O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, vê o PAC com olhos menos céticos do que Teixeira e Padovani. Para ele, é verdade que não há no programa medidas fortes de contenção das despesas correntes (como aposentadoria, pessoal, custeio da máquina pública), mas a aposta em mais investimentos públicos é favorável ao crescimento. Borges espera um avanço de 3,7% para o PIB, e considera possível que a expansão média anual de 2007 a 2010 fique próxima a 4%.

Ele prevê um crescimento mais moderado do consumo das famílias em 2007, de 3,9%, mas também acredita que a popularidade do governo vai seguir elevada. Sua projeção mais cautelosa leva em conta a perspectiva de ganhos reais de salários menores, num ano em que a inflação deve ser um pouco mais alta que em 2006. Além disso, o crédito deve avançar a taxas mais modestas, opina ele. Nada, porém, que deva prejudicar a aprovação do governo Lula.