Título: PT e PMDB disputam diretorias da Petrobras
Autor: Saavedra, Vera
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2007, Política, p. A10

Uma batalha silenciosa vem sendo travada nos bastidores de Brasília entre o PMDB e o PT pelos cargos na diretoria da Petrobras, maior empresa da América do Sul. O partido aliado já está contando com a presidência da Eletrobrás, vaga com o pedido de demissão de Aloísio Vasconcellos, e com o Ministério das Minas e Energia, que já é ocupado por Silas Rondeau. O ministro, que substituiu a ministra Dilma Rousseff, quando esta foi nomeada para a Casa Civil, foi indicação do senador José Sarney (PMDB-AP).

Pelo tamanho da disputa que se avizinha, além do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o único diretor que deverá permanecer no cargo, conforme as mudanças pretendidas pela base aliada, é Almir Barbassa, diretor financeiro e de relações com investidores. Segundo fontes próximas da Petrobras ouvidas pelo Valor, a investida do PMDB na estatal mira também alguns cargos de gerência, sendo as mais desejadas as de afretamento e comercial, que lidam com grandes somas em contratos.

Guilherme Estrella, diretor da área de Exploração e Produção (a que "fura poço"), e um dos fundadores do PT em Nova Friburgo (RJ), não gostaria de ver seu cargo entregue ao PMDB. Para evitar que se espalhe dentro da estatal um movimento de insubordinação petista, o que alguns quadros do governo estão tentando é manter o critério de competência nas indicações políticas, dada a importância da estatal e em respeito ao seu corpo técnico. A Petrobras tem 183 projetos listados no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), principal bandeira do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre os nomes que vêm sendo ventilados para substituir Estrella está o de de Carlos Tadeu Fraga, atual gerente executivo do Cenpes e ex-superintende-executivo de exploração e produção do Sul-Sudeste. Renato Bertani, ex-gerente-executivo da Petrobras America, chegou a ser lembrado, mas pediu demissão da companhia antes mesmo de assumir a superintendência da área internacional para as atividades da estatal na África e Eurásia.

Na diretoria de Gás e Energia vem sendo considerada certa a saída de Ildo Sauer, que seria substituído por Maria das Graças Foster, muito próxima de Dilma Rousseff. Porém, essa substituição ainda é uma dúvida, já que a colocação de alguém tão próximo de Dilma na diretoria não é visto com agrado por Sérgio Gabrielli.

Alan Kardec, funcionário de carreira da estatal e hoje gerente-geral da área de refino, poderá vir a ocupar a diretoria de Serviço (de engenharia), hoje chefiada por Renato Duque, apontado como indicado pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.

A diretoria de Abastecimento é uma das mais cobiçadas pelo PMDB por abrigar as refinarias, a área de marketing (compra e venda de petróleo e derivados), de afretamento de navios e toda logística da estatal no Brasil. Comandada por Paulo Roberto Costa, indicado ao cargo pelo Partido Progressista (PP), a diretoria poderá ser destinada a Sérgio Machado, pemedebista que dirige a Transpetro, uma subsidiária da estatal.

Uma potencial indicação de Machado é vista com preocupação pelo corpo técnico da estatal, que aponta um aumento de custos "fora de controle" em sua gestão. Talvez devido a essa resistência, nomes alternativos estão sendo aventados, como o de Marcelo Castillo da Silva, chefe do escritório da Petrobras em Pequim.

Outra mudança que pode vir a ser implementada na estatal, é a extinção da diretoria internacional, hoje ocupada por Nestor Cerveró, indicado pelo senador petista Delcídio Gomes do Amaral, presidente da CPMI dos Correios que discutiu o "mensalão". A diretoria Internacional foi criada para absorver as atividades da subsidiária Braspetro, mas o objetivo era que tivesse vida curta, com o objetivo de dar foco aos negócios internacionais. Mas teria crescido além do esperado, dispersando o foco.

A extinção da diretoria Internacional vem sendo estudada há algum tempo e faria parte de um rearranjo na gestão operacional da companhia, que prevê ainda a criação de uma diretoria de assuntos corporativos. Ainda não se sabe a quem seria destinada a presidência da Petroquisa, hoje ocupada por José Andrade Lima.

Na Petrobras, ninguém confirma qualquer mudança em curso na diretoria. O que se comenta é que Lula, pessoalmente, teria decidido não fazer qualquer indicação política para as estatais antes da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, que acontece amanhã. Entretanto, as fontes adiantaram que a lista de indicações para a nova diretoria da estatal deverá ser apresentada ao Palácio do Planalto até o dia 15 de fevereiro.