Título: Paranóia do terror é vista também na Índia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Especial, p. A14

Todos os carros que entram no estacionamento do High Street Phoenix, um shopping construído na área de uma antiga fábrica têxtil, na região central de Mumbai, passam por uma checagem. Porta-malas são abertos. A cena se repete em hotéis cinco estrelas de todo o país, da capital, Nova Déli, ao pequeno Estado de Goa, dominado pelos portugueses de 1510 a 1961. Nenhum carro entra na área dos hotéis antes de funcionários, munidos de espelhos, verificarem embaixo dos veículos.

Nos aeroportos, malas embarcadas são lacradas depois de passar pelo raio-x e apenas uma bolsa de mão é permitida. No raio-x, funcionários da segurança pedem para que laptos sejam abertos. Cosméticos não podem ser levados a bordo. Nem mesmo as prosaicas pastas de dente.

A Índia está em estado de alerta máximo contra o terrorismo. O país, que mal se refizera das sete explosões quase simultâneas em estações de trem que mataram cerca de 180 pessoas no dia 11 de julho, em Mumbai, voltou a viver um dia de terror na sexta-feira. Duas explosões próximas a uma mesquita em Malegaon, no Estado de Maharashtra (onde também fica Mumbai), mataram 37 pessoas e feriram outras 100. Durante todo o fim-de-semana, os jornais e os mais de 20 canais de notícias 24 horas da Índia dedicavam-se a entender o porquê do ataque contra os muçulmanos, que hoje respondem por 14% da população indiana.

Uma das hipóteses levantadas por fonte do serviço de inteligência, segundo o jornal "The Times of India", é a de que o objetivo tenha sido espalhar pânico e tensão nas comunidades. Ao ver seus planos de arrumar problemas durante o popular festival do deus hindu Ganesh, que terminou na semana passada, os terroristas teriam decidido partir para novos alvos.

Na manhã de terça-feira da semana passada, o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh (que chega hoje ao Brasil para a cúpula Índia-Brasil-África do Sul), havia feito um pronunciamento em que alertava sobre a possibilidade de novos ataques, inclusive suicidas, em alvos econômicos e religiosos e até mesmo em instalações nucleares. Ele também lamentava que os atos terroristas criaram uma impressão errada de radicalização de toda a comunidade muçulmana.

No mesmo dia do pronunciamento de Singh, um grupo de jornalistas brasileiros entrevistou o primeiro-ministro. Para entrar na sala, os sete jornalistas passaram por uma revista e tiveram de deixar itens como celulares, máquinas fotográficas e isqueiros na recepção. A entrada de três gravadores foi arduamente negociada. Parecia excesso de zelo. Assim como pareceu exagerada a reação negativa de um guia que acompanhava o grupo em Nova Délhi, exatamente uma semana antes das explosões em Malegaon, quando os profissionais pediram para conhecer a maior mesquita da Índia, Jami Masjid. A contragosto, o guia acabou concordando com a idéia. Malegaon mostrou para os forasteiros que o terror está cada vez mais presente na vida dos indianos, a maior nação democrática da Ásia.

A repórter viajou a convite do Ministério de Relações Exteriores da Índia