Título: Grécia força planos contingenciais
Autor: Strupczewski , Jan
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2012, Finanças, p. C13

Cada país da zona do euro terá que preparar um plano contingencial para a eventualidade de a Grécia deixar a moeda única, segundo informaram fontes ontem. As autoridades chegaram a um consenso na tarde de segunda-feira, durante uma conferência telefônica de uma hora realizada pelo Eurogroup Working Group (EWG). Além da confirmação de três autoridades da zona do euro, a Reuters também teve acesso a um memorando elaborado por um estado-membro, detalhando alguns dos elementos que os países do bloco deverão considerar.

O EWG consiste de autoridades que preparam encontros dos ministros das finanças do bloco e também formam o conselho do fundo temporário de ajuda financeira, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Ele é formado em sua maior parte por vice-ministros das finanças e funcionários graduados dos tesouros dos países.

"O EWG decidiu que cada país da zona do euro deverá preparar individualmente um plano de contingência para as potenciais consequências de uma saída da Grécia do euro", disse uma autoridade da zona do euro a par do que foi discutido na conferência telefônica. "Por enquanto, nada foi preparado até agora no âmbito da zona do euro", disse a autoridade.

Uma segunda autoridade confirmou o acordo do EWG. A situação na Grécia, que realizará novas eleições em 17 de junho, deveria ser discutida em uma reunião da União Europeia marcada para a noite de ontem.

O Ministério das Finanças da Grécia negou, em um comunicado, a existência de um acordo de preparação de planos contingenciais. "O Ministério das Finanças desmente categoricamente os relatos de que durante a teleconferência do Euro Working Group, em 21 de maio, tenha sido acertado que cada país da zona do euro deverá preparar um plano contingencial para as potenciais consequências de uma saída da República Helênica da área da moeda única", diz o comunicado.

Mas o ministro das Finanças da Bélgica, Steven Vanackere, questionado antes da reunião da União Europeia, disse que "todos os planos contingenciais caem no mesmo: ser responsável enquanto governo é prever até mesmo o que você gostaria de evitar".

"Devemos insistir nos esforços para evitar o cenário de uma saída, mas isso não significa que não estejamos nos preparando para eventualidades. Acredito que muitos países têm seus planos contingenciais para as coisas que eles querem evitar a todo custo, como atentados terroristas, e afirmar que não temos um plano contingencial seria uma irresponsabilidade", afirmou.

As eleições gregas, a segunda em dois meses, são amplamente vistas como um referendo sobre a permanência do endividado país na zona do euro e a realização de reformas e medidas de austeridade dolorosas, ou sua saída para tentar a sorte com sua própria moeda. Pesquisas de opinião mostram uma população dividida.

O documento a que a Reuters teve acesso detalha os custos potenciais para os estados-membros na eventualidade da saída da Grécia e diz que se isso acontecer, um "divórcio amigável" deveria ser tentado. Também diz que se a Grécia decidir sair, a União Monetária e o FMI poderão conceder até € 50 bilhões para facilitar seu caminho.

O documento diz que Atenas arcaria com custos enormes se decidir abandonar o euro, enquanto outros países do bloco teriam custos mais limitados. Mas o documento afirma que o risco de um efeito-dominó que possa atingir outros países da zona do euro que estão sendo observados pelos mercados no momento, está sendo subestimado. "Os mercados definitivamente perderão a confiança no euro", diz o documento.

O Bundesbank disse que uma saída da Grécia do euro seria "administrável". O banco central alemão também afirmou que os estados da zona do euro deveriam ter influência sobre as parcelas adicionais da ajuda financeira à Grécia, sob o plano de € 130 bilhões.

Até agora, a zona do euro desembolsou € 38,4 bilhões do segundo programa de ajuda financeira para a Grécia. O empréstimo emergencial está ligado a condições de reformas duras, às quais a maioria dos gregos se opõe. A zona do euro também emprestou € 34,5 bilhões para ajudar Atenas a concluir uma reestruturação de dívida em que os investidores privados tiveram que abrir mão de quase três quartos do que a Grécia devia a eles. "A Grécia ameaça não implementar a reforma e as medidas de consolidação que foram acertadas, em troca de programas de ajuda em grande escala", disse o Bundesbank. "Isso coloca em risco a continuidade do fornecimento de ajuda. A Grécia terá que arcar com as consequências de tal cenário."