Título: Desafio dos fundos é repetir 2006
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2006, Finanças, p. C1

Beneficiados pela bolsa em ascensão, a inflação em baixa e os juros reais ainda polpudos, os fundos de pensão tiveram em 2006 um céu de brigadeiro. "Na média, as principais fundações devem alcançar rentabilidades que chegam a dobrar a variação das metas atuariais, o que acrescenta mais folga aos superávits acumulados", observa o diretor regional da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Com esse conforto, a expectativa para 2007 é a de continuar buscando diversificação para compensar a queda do juro nominal, principalmente em ativos de crédito privado, mas com muito mais tranqüilidade.

"Não vamos buscar nada de muito risco", exemplifica Manoel Cordeiro, diretor de investimentos da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Companhia Vale do Rio Doce. "É mais interessante ter 12% em 20 anos do que 20% em dois anos". Segundo ele, além da diversificação em crédito privado e títulos com lastro em ativos reais - como ações e imobiliários -, o objetivo é buscar prazos mais longos para casar ativos e passivos. "A palavra de ordem é o alongamento", afirma.

Na Petros, fundo de pensão dos petroleiros e segundo maior do país, o presidente Wagner Pinheiro diz que também está em busca de investimentos com este perfil. "Temos cerca de R$ 5 a R$ 6 bilhões para investir em projetos de longo prazo, que possam dar retornos interessantes em horizontes maiores", diz Pinheiro. "A prioridade é aumentar a participação da dívida privada na carteira, principalmente por meio de fundos de participação, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Direitos Creditórios (FIDC)", diz.

A Petros deve alcançar ganhos de 16,9% este ano, quase sete pontos acima da meta atuarial. Segundo Pinheiro, nos últimos quatro a média dos últimos anos a rentabilidade foi, na média, de 114% do CDI. Com os superávits financeiros, o fundo reduziu o déficit atuarial de R$ 5,2 para R$ 4,2 bilhões.

Na Valia, o superávit acumulado hoje é de R$ 2,2 bilhões e a rentabilidade deve ficar acima de 17% no ano fechado. "A meta atuarial, que é de INPC mais 6% foi batida em setembro, para o próximo ano, a idéia é diversificar, mas com muita seletividade, com projetos, fundos de participação ou recebíveis de ótimo perfil de risco", afirma Cordeiro. Segundo ele, a Valia tem hoje cerca de 30% do patrimônio de R$ 8,2 bilhões alocados em bolsa, sendo que esse percentual pode aumentar até 35%.

Na Fundação Real Grandeza, fundo do sistema Furnas, o quadro é parecido. O presidente do fundo Sérgio Wilson Fontes lembra que o fundo passou por uma reestruturação forte da carteira após problemas que enfrentou no passado, como a perda com investimentos no Banco Santos.

"Hoje nossa política de investimentos é bem conservadora para o risco de crédito, principalmente o bancário", diz ele, lembrando que a sobra de caixa permite isso. "Até novembro, a rentabilidade está acumulada em 17,1% sendo que a meta é de 7,79%, há uma boa folga. E nossas projeções indicam que não precisamos ser muito agressivos na diversificação", diz. Segundo Fontes, em 2007, a idéia é continuar alocando em títulos públicos de longuíssimo prazo atrelados à inflação e títulos de crédito privado de excelente 'rating' (avaliação de risco). "Também estudamos aplicações em FIDCs".

A Eletros, do sistema Eletrobras, que está num momento de transição de presidentes, com a saída de Luiz Limaverde, também vislumbra um ano tranqüilo em 2007.

De acordo com Limaverde, que deixa o cargo neste fim de ano, a política de investimentos aprovada mês passado prevê diferentes estratégias para o fundo de benefício definido e de contribuição definida. "Estamos numa fase de transição de um para outro", lembra. No plano CD, a idéia é aumentar a participação em renda variável, o que já começou a ser feito neste fim de ano. A rentabilidade em 2006 foi de 18%.

Na Funcesp, onde o superávit está acumulado em cerca de R$ 800 milhões, o processo foi semelhante. O movimento de elevar a renda variável já começou este ano e no ano que vem deve continuar de forma seletiva, assim como a busca por ativos de crédito privado. "Em 12 meses a renda variável aumentou de 8% para 17% da carteira total", diz o diretor de investimentos Jorge Simino. Ele lembra que o cenário para 2007 é bastante parecido com o que se via no início de 2006, o que pode produzir um ano com fundamentos parecidos. "Vamos continuar atentos a boas oportunidades de crédito privado, mas com calma", afirma.

Com as previsões otimistas para o segmento de construção, os fundos voltam a se interessar por ativos relacionados a esse setor, mas não mais da forma tradicional. "O ideal é investir por meio dos CRIs e Fundos Imobiliários", diz Jair Ribeiro, gerente de risco da Eletros.