Título: "Quem manda na política econômica sou eu", diz Lula a comissão de petistas
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2006, Política, p. A5

Andre Dusek/AE Garcia: "Os integrantes da equipe econômica terão que se enquadrar" A Comissão Política do PT sugeriu ontem, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mudanças na política econômica. Os petistas, que um dia antes do encontro estavam dispostos a pressionar pela demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cobraram ousadia do presidente, que, segundo participantes da reunião, avisou que "quem manda e define a política econômica" é ele. O grupo, do qual faz parte o assessor internacional de Lula e presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, saiu do encontro conformado, negando qualquer tipo de pressão e dizendo que a intenção era "discutir assuntos no atacado, não no varejo".

Nenhum dos pontos polêmicos que a Comissão pretendia discutir com Lula, especialmente o pedido para que Meirelles seja demitido, foi abordado na reunião. O presidente repetiu aos companheiros de legenda que não tem pressa para definir nomes do ministério e que só pensará nisso após o seu descanso - possivelmente, na segunda quinzena de janeiro. Segundo um dos presentes ao encontro, Lula passa a impressão de que ainda precisa conversar com os partidos aliados para fechar a equação ministerial e que pretende conciliar perfil técnico com composição política.

O grupo defendeu o aprofundamento da política de distribuição de renda e de crescimento da economia. "Não queremos, e o presidente também não quer, que os próximos quatro anos sejam iguais ao primeiro mandato. Em relação a esse ponto, existe uma sintonia entre o ponto de vista do PT e o do governo", assegurou Marco Aurélio Garcia.

Garcia, no entanto, foi extremamente cuidadoso ao comentar a pressão do partido para que Meirelles deixe o cargo de presidente do BC. Integrantes da Comissão Política do PT, como o deputado eleito Jilmar Tatto (SP), disseram que é voz corrente na legenda a idéia de que "a substituição de Meirelles seria um bom sinal de que o futuro será diferente". Para Garcia, a palavra de Lula é suficiente para dirimir dúvidas. "Na medida em que ele é o responsável pela condução da política econômica, os integrantes da equipe econômica terão que se enquadrar nesse perfil", disse ele, demonstrando certa dubiedade.

Lula, por sua vez, cobrou dos petistas pressa para a definição da disputa pela presidência da Câmara. Reiterou que ele, como presidente da República, não pretende interferir diretamente na disputa. Mas deixou claro a necessidade de que a bancada governista tenha uma candidatura única. "Temos que aprofundar o debate com os partidos da base para construir um consenso num prazo de 10 a 15 dias", defendeu o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS).

O líder petista afirmou que a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) vem ganhando força e que hoje teria, na sua opinião, mais condições de aglutinar os aliados que a de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Na semana passada, Rebelo foi ao Palácio do Planalto dizer que é candidato à reeleição. Fontana não recomenda que Chinaglia faça o mesmo. "O presidente Lula não deve ser protagonista dessa disputa", observou.

Um dos presentes ao encontro diz que Lula já teria percebido que Chinaglia tem mais força que Aldo. "A dificuldade é como compensar o atual presidente da Câmara para que ele abra mão da disputa", disse a fonte.

Quanto à formação do ministério, a falta de pressa do presidente Lula esfriou a pressão dos petistas. Mas o grupo não quer pensar na hipótese de perda de influência no governo. "O PT quer ter um papel estratégico igual ou maior que o atual. Não significa uma questão aritmética de dois, três ou quatro ministérios. Significa capacidade de influenciar nas decisões de governo", explicou Fontana.

Lula, na avaliação dos participantes da reunião de ontem, estaria longe de definições. "Ele está guardando o martelinho no bolso ou em casa. Não quer trazê-lo para o Planalto para não ficarem perguntando demais sobre isso", brincou Fontana.