Título: Renda extra para o consumo diminui em 2007
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2006, Brasil, p. A3

apenas por conta deste efeito, considerando os benefícios do INSS. Os demais R$ 8,5 bilhões que completam a projeção de R$ 21,2 bilhões virão por conta de aumentos na ocupação e na renda dos demais trabalhadores. A injeção promovida pelo mínimo é 40% menor do que os R$ 18,8 bilhões colocados na economia por meio desse instrumento em 2006. Neste ano, o reajuste nominal foi de 16,7% - 13% além da inflação. Os cálculos são de Sergio Vale, da MB Associados.

O Bolsa Família também vai ajudar menos o comércio, pois não há perspectiva de reajuste no valor dos benefícios. A quantidade de pessoas atendidas também não deve ser expandida, uma vez que todas as famílias-alvo já estão contempladas. Assim, 2007 não contará com a entrada de 2,5 milhões de famílias nesse programa e o aumento real de 23,4% nos gastos com essas transferências no ano, quando o programa representou uma distribuição de renda de R$ 8,3 bilhões às 11,2 milhões de famílias atendidas.

O Norte e o Nordeste são as regiões onde a desaceleração das vendas do comércio será mais forte. Juntos, os Estados nordestinos concentram 50% do total das famílias atendidas pelo Bolsa Família. E, de acordo com a MB Associados, 15% das famílias brasileiras que recebem alguma renda ganham até um mínimo. Desse total, 45% estão no Nordeste. Além disso, 35% das pessoas beneficiadas pela Previdência estão lá.

"As camadas de renda mais baixa da população não terão um aumento tão vultoso do poder aquisitivo novamente", afirma Sergio Vale, da MB Associados. O economista-chefe da Gouvêa de Souza & MD, Maurício Moura, lembra que o ganho de renda por meio do Bolsa Família obtido esse ano não influenciará 2007. Em 2006, 2,5 milhões de famílias ingressaram no programa. "Uma família passou a receber, por exemplo, R$ 80 a mais todo mês. Isso trouxe um aumento imediato de consumo. Agora essa renda se mantém e não há mais esse salto, o efeito marginal é decrescente", explica Moura.

Há outro ponto que irá corroer a renda dos trabalhadores, especialmente a dos mais pobres: os gastos com alimentação. Neste ano, os preços dos alimentos estiveram extremamente comportados, mesmo com a subida dos últimos meses. A projeção da RC Consultores é de que esses produtos subam 1,6% em 2006 e 5% em 2007.

Apesar de não ser preocupante, essa alta roubará uma boa fatia do rendimento dos brasileiros, já que os alimentos tem um peso de 22% nos gastos totais, segundo a ponderação do IPCA. No INPC, que calcula a inflação das famílias com renda mensal até seis mínimos, o peso dos alimentos é de 29,8%.

A massa de rendimentos também não vai crescer tanto. Estimativas de Fábio Romão, economista da LCA Consultores, revelam que em 2007 esse indicador terá elevação de 4,5%, abaixo dos 5% projetados para 2006. E a maior diferença será no rendimento. No próximo ano, ele deve subir 1,55%, contra uma alta de 2,75% neste ano. Já a ocupação tende a manter uma evolução semelhante e subir 2,8% em ambos os anos. Em termos absolutos, a massa de renda no próximo ano atingirá R$ 86,7 bilhões, enquanto a de 2006 fechará em R$ 83 bilhões. Esses cálculos levam em conta a renda do trabalho e também a renda dos aposentados.

"A renda crescerá menos por conta do reajuste menor do mínimo e também pela ajuda menor da inflação", diz Romão. Ele lembra que em 2005 os preços subiram 5,7% e neste ano devem ficar abaixo de 4%. "Foi uma mudança significativa, que alivia as pressões sobre a renda", afirma. Para 2007, a expectativa é uma inflação também na casa dos 4%, um patamar confortável, mas que não repetirá o ganho de renda visto neste ano.

Há, no entanto, quem esteja um pouco mais otimista. A economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour, concorda que os fatores citados acima não jogarão mais a favor da renda, mas vê pontos que farão um contraponto. "De um lado o governo vai deixar de aumentar as transferências, mas de outro dará estímulo fiscal via investimentos, especialmente em infra-estrutura", ressalta. Mais obras, argumenta ela, vão estimular a geração de empregos.

Além disso, Solange diz que nos últimos anos as empresas brasileiras tiveram ganhos de produtividade que não foram repassados ao trabalhador. Como a demanda interna ainda virá bem em 2007, ela acredita que haverá espaço para que esses ganhos sejam repassados aos salários. Por isso, ela projeta 5,5% de crescimento para as vendas do varejo em 2007, mesmo número esperado para este ano.