Título: Até o CEP define custo de apólices para automóveis
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Finanças, p. C12

Você mora em apartamento ou casa? Sua garagem tem porta automática? Qual o CEP da sua rua? É solteiro, casado, ou viúvo? Se for viúvo, seu seguro de carro pode custar até R$ 300 a mais do que o de uma pessoa casada. Se morar na Zona Leste de São Paulo, a apólice pode ser até 50% mais cara. Questões como essas são cada vez mais freqüentes nos tradicionais questionários de perfis das seguradoras para determinar o preço da apólice. Até pouco tempo, boa parte desses questionários costumava avaliar basicamente sexo e idade dos motoristas.

Com a ajuda destes questionários, as seguradoras têm conseguindo reduzir a sinistralidade do segmento. No primeiro semestre, a queda, influenciada também pela redução dos roubos, foi de seis pontos percentuais, para 64%, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Os questionários das seguradoras brasileiras têm em média 10 perguntas, mas alguns deles têm mais de 30 itens. Segundo corretores ouvidos pelo Valor, o mais "detalhado" e "imitado" é o da Porto Seguro. O mais simples é o do Bradesco, com apenas sete perguntas. Nos Estados Unidos, para descobrir o perfil de um motorista não se faz menos que 55 perguntas. Lá, as seguradoras querem saber até o tipo sanguíneo e um histórico da pressão arterial do condutor.

No Brasil, o CEP é um dos fatores que vem ganhando maior peso nos questionários. Segundo um corretor, o nível de detalhamento é enorme. Na SulAmérica, por exemplo, dependendo da rua, quem mora até determinado número tem um preço; quem mora nos números seguintes, tem outro preço. A razão é o índice de roubos, que pode ser maior ou menor na mesma rua, em função da proximidade de bares ou universidades.

Na grande São Paulo, a região hoje com os seguros mais caros é a Zona Leste da capital. No passado, já foi São Bernardo do Campo, na região do ABC. Um corretor que trabalha com nove seguradoras conta que, há algum tempo, elas simplesmente recusavam a venda de seguros para residentes de São Bernardo, independente do modelo do carro. Um corretor conta que uma seguradora pediu R$ 3 mil para o seguro de um Uno Mille, avaliado em R$ 11 mil, para um motorista da Zona Leste.

Entre as grandes seguradoras, a Bradesco Seguros foi a última a aderir ao uso do perfil. Desde que passou a usar, em 2004, até o final do primeiro semestre deste ano, a sinistralidade caiu cerca de 15 pontos, informou Fernando Cheade, superintendente executivo técnico de auto da Bradesco Auto/RE.

Na Itaú Seguros, uma análise "bastante profunda" e "bastante seletiva" por meio de modelos estatísticos que analisa o perfil de cada cliente levou a uma redução do índice de sinistralidade no segundo trimestre, disse Silvio de Carvalho, diretor executivo de controladoria do Banco Itaú durante teleconferência de resultados do banco. "Perdemos um pouco o market share nesse mercado, mas melhoramos bastante o nível de sinistralidade", disse. Apenas do primeiro para o segundo trimestre, ela caiu 7,5 pontos percentuais, para 50,4%.

Na Porto, as perguntas são reavaliadas mensalmente, incluindo e excluindo itens. Lá, são dois questionários. Um para maiores de 24 anos e outro, mais amplo, para jovens de 18 a 24 anos. Para estes, as perguntas são mais detalhadas e incluem o número de vezes que saem à noite e se trabalham ou não. Segundo Marcelo Sebastião, gerente de autos da Porto, a sinistralidade entre os jovens é 25% maior.

Por conta das diferenças dos questionários, a variação de preços entre as seguradoras chega a ser de mais de três vezes. Ou seja, uma apólice para uma mesma pessoa pode custar R$ 1 mil em uma e R$ 3 mil em outra seguradora. "O questionário é a forma de se fazer uma precificação mais justa", destaca José Carlos de Oliveira, diretor do ramo auto da Marítima Seguros.

Para Marcus Vinícius Martins, vice-presidente de automóveis da SulAmérica, os questionários estão se sofisticando, mas a expansão tem um limite: por causa da correlação entre as perguntas, chega um momento em que a inclusão de mais itens não traz mais informações novas, diz.