Título: Pequenos que brilham
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, EU & Investimentos, p. D1

Apesar de responderem por uma parcela de apenas 9% do setor de previdência privada, os planos com ações - balanceados e multimercados - apresentam boa diversificação entre si, com diferentes perfis de gestão e risco. Segundo levantamento do site Fortuna, neste ano, enquanto a rentabilidade dos planos de renda fixa e DI varia entre 6,29% e 10,61%, entre as carteiras com renda variável essa escala de variação é maior, entre 2,62% e 13,78%. O relatório revela, ainda, que, entre os balanceados, os planos das quatro maiores seguradoras - Brasilprev, Bradesco, Itaú e Caixa Seguros - têm rentabilidade média abaixo dos planos das demais seguradoras. Entre os planos de renda fixa, a vantagem em rendimento é das grandes seguradoras.

Nas médias gerais, todos os tipos de fundos de previdência apresentaram rentabilidade abaixo do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referência do setor que varia 10,39% no ano, até agosto. Porém, enquanto os planos de renda fixa renderam em média 9,21% nas grandes seguradores e 9,08% nas menores, entre os planos compostos (com ações), a situação é inversa. Nas grandes, os compostos avançaram 8,65%, em média, enquanto nas pequenas subiram 9,52%. Vale destacar que, no período, o Índice Bovespa avançou 8,30%, menos do que o CDI. Sinal de que as menores tiveram maior destreza ao investir em renda variável ao longo deste ano.

Os planos com ações de seguradoras maiores, em geral, têm gestão passiva, ou seja, um percentual fixo da carteira aplicada em ações. Enquanto isso, os planos de seguradores menores tendem a ter gestão ativa, em que se altera o valor aplicado em ações conforme a conjuntura, avalia Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. No entanto, o limite para aplicação em renda variável pelos planos de previdência é sempre de 49% e não é permitida alavancagem, segundo regra da Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep).

Marcello Rudge Ribeiro, sócio responsável por Vida e Previdência da corretora Quorum, diz que, nos planos compostos, os aplicadores com poucos recursos têm acesso a bons gestores, principalmente em seguradoras menores, mais especializadas na gestão de renda variável. Diferentemente do mercado de Planos Geradores de Benefícios Livres (PGBLs) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBLs) de renda fixa, cujas quatro grandes empresas concentram 77% do mercado. Nos planos de previdência compostos, 52% da carteira estão nas demais seguradoras.

Gilberto Kfouri Junior, diretor de Investimentos do BNP Paribas, diz que não é a taxa de administração que diferencia esses planos porque ela em geral está alinhada entre todas as seguradoras. "É uma gestão ativa dos recursos e a especialização em renda variável que fazem a diferença." Marcelo Gerbassi, gestor de renda Variável da Icatu Hartford, diz que a seguradora busca diferencial de rentabilidade para seus planos compostos aplicando em ações com perspectiva de rentabilidade melhor em prazos mais longos.

No entanto, Kfouri, do BNP, reconhece que são poucos os participantes atentos à rentabilidade e à composição da carteira dos planos. "Em geral, eles querem saber apenas se o plano tem ou não tem ações." Gerbassi também diz que são poucos os investidores que conseguem distinguir planos com gestão ativa ou mesmo a referência da aplicação em ações, se Ibovespa ou outro índice da bolsa.

Para D'Agosto, do Fortuna, isso ocorre porque a maioria das seguradoras oferece o benefício fiscal, que permite deduzir as contribuições do PGBL na declaração anual, como maior vantagem do plano. "Isso dificulta a visão da previdência como investimento de longo prazo." Contudo, uma ligeira diferença de um ponto porcentual ao ano na rentabilidade da carteira equivale a um "caminhão de dinheiro" no fim de 30 anos, diz Ribeiro, da Quorum.

Para Marcelo Teixeira, CEO da HSBC Seguros, conforme mais participantes da previdência tiverem consciência de que este é um investimento de longo prazo, mais aplicarão em planos com renda variável para buscar ganho maior. Além disso, se a tendência de queda de juros seguir, a busca por maior rentabilidade poderá ser mais intensa. Teixeira diz que as seguradoras que investem em distribuição mais cuidadosa - a chamada venda consultiva - têm menor freqüência de resgates no curto prazo. "Portanto, é possível administrar melhor os recursos e obter rentabilidade mais elevada." Com a estratégia, o HSBC consegue ter 70% da sua carteira de previdência em planos que aceitam renda variável. Mas Teixeira também lamenta a falta de mais discussões sobre rentabilidade entre os participantes. "Essa preocupação surge apenas quando eles já têm um bom dinheiro nos planos."

Para Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência, os planos das grandes têm menos participação de renda variável porque têm uma maior capilaridade. "Nas regiões urbanas, em que há mais informações disponíveis e as seguradores menores atuam, temos a mesma parcela em planos compostos", diz Rossi. "Mas nos lugares mais afastados, os participantes tendem a ser mais conservadores e optam apenas pelos planos de renda fixa." A tendência, para ele, é de que a parcela investida em planos com renda variável cresça ao longo dos próximos anos.

D'Agosto, do Fortuna, diz que, apesar da maior rentabilidade dos planos menores entre as carteiras com ações, as quatro grandes seguradoras conseguem manter sua maior fatia de mercado porque, entre os planos de aplicação mínima menor, possuem a vantagem em distribuição. Entre os planos para alta renda, diz ele, essas seguradoras também ganham, porque conseguem oferecer produtos com taxas competitivas.

Os planos de previdência captaram em agosto R$ 989 milhões, o recorde deste ano, valor um terço maior do que o do mesmo período de 2005. No ano, a previdência privada aberta acumula R$ 5,4 bilhões em novos depósitos, 61% mais do que de janeiro a agosto de 2005, quando foi registrada captação de R$ 3,4 bilhões. Segundo Rossi, que também é vice-presidente da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp), a tendência é de a captação avançar mais, pois é no último quadrimestre que ocorrem normalmente os maiores depósitos em PGBLs, por conta do fim do prazo para obtenção de benefício fiscal na declaração.

Segundo a consultoria Fortuna, em relação ao patrimônio líquido em dezembro do ano passado, os planos de previdência crescem a um ritmo de 16,6% ao ano em 2006. Esse crescimento é menor apenas do que o dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que avançam em ritmo de 54% ao ano e os fundos multimercados, que crescem 31% ao ano. O setor de fundos de investimento, em geral, crescia apenas 12,2% ao ano até agosto.

Apesar da vantagem no ano, os planos balanceados e multimercados apresentaram rentabilidade baixa em relação às carteiras mais conservadoras no mês passado. Segundo dados do site Fortuna, enquanto os planos DI e de renda fixa avançaram 0,99% e 1,25%, pela ordem, os planos multimercados e balanceados apresentaram rendimento de 0,25% e 0,08%, respectivamente pela queda da bolsa.