Título: Analistas já projetam expansão do PIB inferior a 3%
Autor: Lorenzo , Francine De
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2012, Brasil, p. A3

Os economistas já não esperam crescimento acima de 3% para a economia brasileira neste ano. O Boletim Focus, do Banco Central (BC), mostra que as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 baixaram de 3,09% na semana passada para 2,99% na apuração desta semana, apesar de todos os esforços do governo para reaquecer a economia.

E as reduções, na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor, não devem parar por aí. Uma nova rodada de revisões para baixo é aguardada na próxima semana, após a divulgação, na sexta-feira, dos resultados do PIB do primeiro trimestre. "Muitos economistas estão aguardando os dados do PIB para refazer suas contas", afirma Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management, que estima crescimento de 2,7% no PIB deste ano.

Seus cálculos consideram aumento de 0,4% no PIB do primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses de 2011, mas Fix já trabalha com a possibilidade de um resultado ainda mais fraco. "A alta de apenas 0,15% no IBC-Br no período aponta nesse sentido", comenta, referindo-se ao Índice de Atividade Econômica do Banco Central, uma prévia do PIB.

Essa mesma linha de raciocínio é adotada por Flávio Combat, da Concórdia Corretora. Ele observa que há indicações de que a política de incentivo ao consumo adotada pelo governo está tendo efeito limitado sobre a economia. "As medidas começaram a ser lançadas no segundo semestre do ano passado. Considerando um período de quatro a cinco meses para que os efeitos comecem a ser percebidos, já deveríamos ver algum reflexo no PIB do primeiro trimestre, o que aparentemente não aconteceu, segundo os dados do IBC-Br."

Combat, entretanto, ressalta que ao longo dos meses as medidas do governo foram se acumulando, ampliando as dúvidas quanto aos seus efeitos até o fim de 2012. Além disso, ele diz que outra grande fonte de incerteza é o cenário internacional. "Ninguém sabe como será o desenrolar da crise lá fora, nem qual será seu reflexo sobre a economia brasileira."

A expectativa de menor fôlego na atividade econômica, para Combat, já reflete nas estimativas de inflação. O Boletim Focus mostra que as previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano cederam de 5,21% na semana passada para 5,17% nesta semana. As previsões para o dólar no fim de 2012 subiram de R$ 1,85 na semana passada para R$ 1,90 nesta semana.

"Com a inflação distante do teto da meta [de 6,5%], o governo pode manter o câmbio em um nível um pouco mais elevado para impulsionar a economia", diz o economista-chefe do BanifInvest, Mauro Schneider. "A fotografia que o Focus nos mostra é a de que o câmbio e a inflação estão em patamares razoáveis. O que preocupa mais é o PIB."

Schneider afirma que é natural que a expectativa de inflação recue diante da previsão de menor crescimento econômico. Entretanto, ele ressalta que parte importante do comportamento dos preços já está desenhada, sem guardar relação com o desempenho da economia brasileira nos próximos meses. "A redução do IPI sobre carros, por exemplo, deve ajudar a diminuir a inflação neste ano", exemplifica.

Diante das projeções modestas para o PIB, Schneider não descarta a possibilidade de prorrogação do incentivo fiscal sobre automóveis, que a princípio termina em 31 de agosto. Neste caso, os efeitos da reversão da medida sobre a inflação ficariam para 2013.