Título: Lula se diz indignado com acusação de que teria chantageado Mendes
Autor: Cunto , Raphael di
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2012, Políitica, p. A6

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em nota de sua assessoria, "estar indignado" com a acusação de que teria pressionado o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para adiar o julgamento do mensalão para 2013 em troca de proteção na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira.

"O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja", afirmou Lula, na nota.

A declaração do petista foi divulgada horas depois do presidente do STF, Carlos Ayres Britto, cobrar um posicionamento do ex-presidente sobre a denúncia, revelada pela revista "Veja". "Foi um encontro a três. Dois já explicitaram a sua interpretação dos fatos. Ouçamos o terceiro [Lula]", afirmou Britto.

Segundo a reportagem, Lula fez a proposta a Mendes no escritório do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, disse que tinha controle sobre a CPI e ameaçou convocar o ministro do STF para explicar uma viagem feita a Berlim com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), agora investigado pelas relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Mendes confirmou o assunto da conversa, enquanto Jobim negou que o ex-presidente tenha feito pressão. Na nota, Lula reconhece que encontrou Mendes ao visitar o escritório de Jobim, mas diz que "a versão da revista sobre o teor é inverídica".

Ayres Britto não quis comentar o ocorrido e disse que é compreensível que a imprensa e a sociedade peçam o julgamento do mensalão. "O processo está maduro para ser julgado, chegou a hora", afirmou.

A data do julgamento ainda não está marcada. "Estou na dependência do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, que ainda não sinalizou se entregaria o processo no primeiro semestre ou no segundo", comentou.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da CPI do Cachoeira, defendeu o ex-presidente Lula. "O próprio [Nelson] Jobim desmente que tenha havido esta conversa. Em segundo lugar, o ministro Gilmar [Mendes] não fala em "on", não tem aspas dele na revista. Pode ter havido telefone sem fio, fofoca, estão querendo jogar pó de mico", afirmou. O parlamentar disse que o assunto é desimportante e não merece a convocação de Lula à comissão: "Não é matéria de CPI". Em São Paulo, o ex-governador José Serra disse que "qualquer pressão ou ingerência é indevida". "E não acredito que mude a posição do STF", afirmou. (Colaborou Cristian Klein)