Título: Fabricante de vestuário investe em marca própria
Autor: Barone, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Empresas, p. B5

Empresas como a Dell'Erba, de Campo Limpo Paulista (SP), a J.R. Meneguzzo, de Erechim (RS) e a Di Luce, de Caxias do Sul (RS), consolidaram seus negócios com a produção de roupas no esquema de "private label", ou seja, com a marca do cliente). Hoje, estão fazendo o caminho inverso: investem em marcas próprias para tentar aumentar a margem de lucro.

A estratégia está mostrando o que pode vir a ser uma nova tendência das confecções, a de investir em uma grife. "É uma forma de criar um produto com maior valor agregado e, consequentemente, aumentar o faturamento", diz Rogério Meneguzzo, diretor-superintendente da J.R. Meneguzzo, empresa criada por seu pai, José Rovílio, em 1976.

A terceirização da produção intensificou-se a partir dos anos 1990, no setor de vestuário, no Brasil. Muitas empresas deixaram de fabricar suas roupas para se dedicar somente ao varejo, passando a tarefa para outras companhias. O estudo Brasil Têxtil 2006, realizado pelo Instituto de Marketing Industrial (IEMI), mostrou que, entre 1990 e 2005, o setor de confecção cresceu cerca de 35%, em número de unidades fabris. Segundo o estudo, a terceirização do processo produtivo criou espaço para novos pequenos produtores.

O consumidor, muitas vezes, nem desconfia, mas a calça jeans ou a malha que ele está comprando com a marca X não foi feita por ela. Entre o fabricante da matéria-prima (tecido) e o varejo, há um fornecedor da roupa pronta que não aparece, mas é responsável pela confecção da peça e, muitas vezes, até pelo seu desenho.

"Ter uma marca própria ou trabalhar com 'private label' são bons negócios", afirma Meneguzzo, cuja empresa começou como loja que vendia tecidos a metro, na década de 70. "Mas é preciso fazer uma opção: não dá pra fazer tudo bem." Por isso, depois de mais de 15 anos focando na produção para outras marcas, a J.R. Meneguzzo está encerrando sua divisão de "private label" para dedicar-se a duas marcas próprias de roupas de jeans, a Index, criada no início dos anos 1990, e a Chopper, comprada há três anos.

A idéia, por enquanto, não é ter lojas, mas continuar distribuindo as duas grifes para lojas multimarcas de todo o país, cerca de 2 mil pontos de venda.

A produção de peças para outras grifes era uma maneira de atingir a capacidade instalada da fábrica, de 40 mil peças por mês - volume que a produção de roupas da Index e da Chopper já alcança. A empresa, que fabricava jeans para marcas como a Redley, do Rio de Janeiro, continuará apenas a produzir os jeans da grife Alexandre Herchcovitch, que produz sob licença (ela fabrica, distribui e paga royalties ao estilista). A JR Meneguzzo faturou R$ 27 milhões em 2005 e espera crescer 20% este ano.

A Di Luce, com 14 anos de experiência na produção de malharia retilínea (tricôs), acaba de lançar sua primeira marca, a Aigre-Doux, em parceria com o seu representante comercial na França, Daniel Abijmil. A coleção de verão da Aigre-Doux (agridoce em português) está chegando agora em lojas multimarcas do Brasil (e da França, em alguns meses). "Sentimos que havia espaço para uma grife de tricô sofisticada", diz Lúcio Celli, diretor da empresa.

A fabricante, com uma produção de 120 mil peças por ano e faturamento de R$ 6 milhões (2005), fornece tricôs para as marcas brasileiras Cori, Osklen, M.Officer, Ellus e Gregory, além das grifes francesas Manoush e Naf Naf.

A Dell'Erba, que produz tecidos tecnológicos e roupas esportivas há 30 anos, criou a grife Doox há um ano e meio. As roupas são vendias em Campinas (SP) e até o final do ano terão uma nova vitrine na rua Augusta, na capital paulista. A empresa produziu vestuário para a São Paulo Alpargatas entre 1978 e 1990. Também já forneceu peças para a Diadora, Cavalera e Daslu.

Atualmente, a Di Luce cria peças para marcas como a Gustavo Kuerten e Azaléia. A produção sob licença representa 55% do faturamento da empresa, que no ano passado foi de R$ 15 milhões. A previsão é crescer 15% neste ano. Mas a idéia é investir pesado na marca própria Doox, que utiliza tecidos tecnológicos, mas tem design esportivo que segue as tendências de moda. "Aproveitamos o 'know how' da produção do tecido à roupa", diz Ricardo Dell'Erba, diretor comercial da empresa.